Showroom Internationale 1971 – Por Sergio Biston

Showroom Internationale 1971 já nasce essencial. Lançado pela International, um time composto pelos criadores de antigas gravadoras cladestinas como a DAE, o combo livro/CD é uma lição de como fazer um clássico e é um exemplo para todo e qualquer aspirante a selo pirata. A direção de arte é fantástica e o capricho dos produtores se manifesta desde a confecção da bela caixa de papelão de alta qualidade que abriga o livro capa dura,  até os CDs que trazem material inédito. Com apenas 999 cópias produzidas irá se tornar rapidamente uma jóia rara para os colecionadores. Não obstante ao capricho da produção o pacote traz um show bombástico, gravado no encerramento da 4ª temporada do Rei do Rock em Las Vegas. O livro é primoroso, com fotos raras da temporada em qualidade superior ao que se ve em outros lançamentos, memorabilias do período e recortes com a crítica dos jornais da época. Tudo isso somado a um texto bem escrito e com propriedade. É mais do que um bônus, é um complemento a altura da música que o acompanha.

A caixa traz dois CDs, o primeiro é a já conhecida apresentação do dia 28 de Janeiro, lançado no final da década de noventa pela Fort Baxter como Lean, Mean and Kickin Butt e já analisado por este site. Ha uma melhoria na qualidade sonora, nada excepcional, mas significativa o suficiente para tornar o antigo bootleg obsoleto.

O segundo é  CD é o show de encerramento, erroneamente datado pelos produtores como o penúltimo show. É o creme de la creme do lançamento. Uma performance explosiva trazendo um Elvis menos profissional e menos contido do que no ano anterior e que se aproxima muito do selvagem performer de 1969. O repertório da primeira temporada do ano traz poucas surpresas, com apenas duas ou três músicas novas. Aparentemente, a direção do International Hotel requisitou que os shows fossem mais curtos do que a média que Presley estava fazendo, para que o público pudesse passar mais tempo nas máquinas caça-níqueis e consequentemente trazer mais lucros para o hotel-cassino. Por isso mesmo o show tem um ritmo acelerado, a la Madison Square Garden . Algumas canções acabam prejudicadas, como You´ve Lost That Loving Feeling, que perde o dramático "Baby Baby, I  get on my knees for you." Mas por um outro lado esse ritmo confere um ar mais rock´n´roll a apresentação.

Elvis está empolgadíssimo, não se limitando a cantar no piloto automático, apenas utilizando-se de sua voz de ouro e carisma lendário. Aqui ele é Elvis "fuckin´" Presley. O dono de Las Vegas. O Rei do Rock que transformou suas apresentações em Vegas e pelo país em objeto de lenda. Mesmo com o parco registro visual disponível dessa temporada, não é dificil imaginar Elvis se movendo de um lado para o outro do palco, distribuindo socos  e chutes, rodopiando e pulando numa versão arrebatadora de Polk Salad Annie que termina com microfone ao chão. Jogado ou derrubado, não importa, é tudo parte do show. Parte da mística de Elvis Presley ao vivo, espetáculo que levou centenas de milhares a arenas e showrooms. Sua versão de Mistery Train/Tiger Man nesta noite é puro rock, tracionado pela bateria selvagem de Ronnie Tutt. Johnny B. Good segue na mesma veia, com tudo o que um bom número de rock ao vivo deve ter: Guitarra, bateria e um vocalista absorvido pela energia da mistura.  "Beat the hell out of it, Tutt! ." E quem mais poderia cantar a sagrada How Great Thou Art para um público formado em sua maioria por apostadores beberrões e promíscuos e mulheres fáceis depois de um rock diabólico? Somente Presley. Só ele poderia oferecer uma peça sacra num ambiente como esse e sair ileso. Ainda por cima fazendo uma versão que embora vocalmente imperfeita é verdadeira, sincera. Igualmente sincera, Bridge Over Troubled Waters sucinta uma versão inspirada, de fraseamento incomum, também resultado da energia extra de Elvis nessa performance.

A mixagem do tape é estranha. Elvis, os vocais e a bateria estão em evidência, enquanto todo o resto, principalmente a orquestra ficou completamente ao fundo. De alguma maneira bizarra funciona e esse passa a ser até o momento um dos melhores registro sonoros desta temporada. Graças a essa mixagem, é possivel acompanhar com mais clareza o trabalho fantástico de Tutt e a os belíssimos vocais de fundo dos Imperials, um grupo talvez superior ao Stamps Quartet que viria a substitui-los em breve. O soundboard é incompleto, sendo este o único ponto negativo de um lançamento praticamente perfeito.  Pelas gravações de platéia disponíveis sabe-se que Help Me Make It Thru The Night, as apresentações dos músicos e The Impossible Dream são as faixas restantes cantadas naquela noite. O tape acaba na parte final de Suspicious Minds e é completado com gravações de outro soundboard.

Existem concertos com repertórios artisticamente mais relevantes e performances vocais superiores, mas registros de apresentações com esse nivel de energia e atividade são relativamente raros, tornando este soundboard um registro ainda mais importante. Na verdade, indispensável.

Apresentação Do Material: 5/5

Conteúdo: 5/5 

Som:

CD 1: 4,4/5