Ha literalmente centenas de shows de Elvis lançados por diversos selos independentes ou oficiais, sejam gravações de platéia ou registros da mesa de som. Ha também uma vasta quantidade de ótimos shows, bons shows e a eventual parcela de apresentações medíocres. Ha entretanto um pequeno grupo de concertos que podem ser considerados estelares. Aquele tipo de espetáculo que faz o ouvinte retornar a ele várias vezes. Nas palavras de Clinton Heilyn, autor de Bootleg: The secret Side Of The Other Record Industry:
 

"É preciso mergulhar em dezenas de noites ruins, performances fracas e gravações abafadas para achar um momento, um respiro de ar fresco, aquele concerto perfeito que justifica tudo"

Esse é um deles.

Gravado diretamente da mesa de som, com qualidade sonora e mixagem excelente, o mais recente lançamento da Madison vem para figurar entre os lançamentos essenciais na discografia pirata de Elvis. É um CD obrigatório na prateleira de quem coleciona este tipo de material.

Sem sombra de dúvidas, a segunda temporada de 1972 no Hilton de Vegas foi uma de suas melhores. Presley indubitavelmente fez muitas apresentações brilhantes entre 1973-1976, mas a qualidade artística de seus shows em Vegas dentro desse período nunca foi superior à curva acendente dos anos de 1969-1972. Dentro desse período Elvis mostrou ao público de Vegas porque era o artista mais completo do showbizz, com seu carisma, talento, dinamismo,presença de palco e beleza. Como um todo, essas apresentações nunca mais seriam igualadas.

É, portanto, inegável a qualidade de suas apresentações durante essa temporada representada aqui pelo Midnight show do dia 12 de Agosto, onde um repertório moderno e bem balanceado é soberbamente interpretado por um cantor no topo de suas habilidades vocais.

Não ha interrupções aqui. Não há piadas ou beijos durante as canções. Cada peça é interpretada com total entrega deliciando o ouvinte com performances dedicadas. Até mesmo os clássicos do início de sua carreira como All Shook Up e Teddy Bear, por ele tão execrados, são beneficados por esse comprometimento. É, botando às claras, um show digno de seu legado.

Assim como na primeira temporada em Vegas no mesmo ano, novas canções foram adicionadas ao repertório. Não em número igual, mas a inclusão de cada uma delas foi notadamente escolhida com zelo, por vezes refletindo um momento em particular de sua vida.

É o caso de What Now My Love e For The Good Times. A primeira seria imortalizada cinco meses depois em seu especial via satélite, Aloha From Hawaii, enquanto For The Good Times ganha aqui possivelmente a sua melhor leitura, incluindo a versão de estúdio. A interpretação desse bonito country é um provável recado à sua ex-esposa e talvez por isso, Elvis dedique-se imensamente ao número, cantando cada verso como se cada palavra saísse diretamente de seu coração. A orquestra e os backing vocals fazem um trabalho igualmente fantástico. My Way, o clássico para sempre associado à Frank Sinatra, faz sua estréia nessa temporada e embora ganhe uma belíssima interpretação, suas versões definitivas na voz de Elvis só virão anos mais tarde.

No mesmo quilate das outras canções românticas do show, Untill Its Time For You To Go evoca também uma belíssima interpretação do clássico de Buffy Sainte Marie.

As performances apaixonadas seguem com releituras de clássicos da outras temporadas como You´ve Lost That Loving Feeling, muito parecida com a versão do album As Recorded Live At Madison Square Garden, e American Trilogy, originalmente utilizada na primeira temporada do ano.

Elvis em diversos momentos da temporada de Agosto/Setembro de 1972.

Ha também resgates da época dourada do Rock, com destaque para Fever, que faz sua estréia nessa temporada e será utilizada quase que continuamente até os últimos concertos de Elvis. Suas primeiras versões, como a presente neste CD, conservam um pouco do charme e a malícia da versão original e funcionam muito bem ao vivo, promovendo um momento de interação entre Elvis e a platéia feminina, provocada pelos meneios corporais do cantor, sob o palco tenuamente iluminado. Futuramente, Fever não contará com interpretações tão concentradas, padecendo por vezes, do excesso de brincadeiras de Elvis com o público.

O show conta também com versões inspiradas de Suspicious Minds, sempre um clássico, e hits antigos e mais raros em seu repertório, como  One Night e Blue Sued Shoes. Hound Dog, aparece em sua nova roupagem blues.

Encerrando o concerto, a tradicional Cant Help Falling In Love, precedida do que prometia ser uma versão matadora de Tiger Man, mas que infelizmente marca o final do tape, contendo apenas os segundos iniciais.

Mas não é somente o show em si que está em um nível acima dos demais. O CD como produto também está em uma liga à parte, apresentando uma excelente mixagem com todos os instrumentos e vocais audíveis na medida certa.

Para fechar com chave de ouro, acompanha o disco um livreto com fotos raras da temporada, bem como um texto explicativo sobre o período e seu contexto.

Para fãs que procuram ter somente o essencial da discografia pirata, dado seu preço e a dificuldade de encontrar esse material em seu formato original, Hot August Night da Madison vale a caçada e figurará entre os destaques da discografia ao vivo de Presley.

Som: 4/5

Performance: 4,8/5

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