Thats The Way It Is é certamente um dos melhores albuns lançados por Elvis na década de 70. Foi de certa forma um projeto conceitual, lançado conjuntamente com o filme de mesmo nome, sem ser necessariamente uma trilha sonora. Basicamente um álbum de originais, com seis das doze composições fazendo sua estréia na voz de Elvis e primando pela qualidade das composições inéditas bem como pelas interpretações soberbas de sucessos de outros artistas. Como sempre nos discos dessa década a mistura de gêneros é marcante, mas dessa vez sem perder a direção. Ha Pop, Country e o eventual Rock´n´Roll para manter a coroa. Tudo arranjado com qualidade e interpretado com empenho e vigor pelo cantor. As baladas, mais proeminentes neste projeto, destacam-se pelas letras maduras e pelas interpretações envolventes do cantor. Tanto os covers quanto as originais  apresentam arranjos elegantes com metais e cordas que nunca se sobrepõe em excesso e interpretações apaixonadas de Elvis.

Juntas, as composições quase podem contar uma história de amor, ou ainda, diferentes realidades desse sentimento. De um lado a alegria, o coração acelerado e o sentimento de jovialidade que acompanha cada paixão, representadas por  How The Web Was Oven, The Next Step Is Love, Mary In The Morning e I´ve Just Can Help Believin. Do outro, a face mais sombria. Essa marcada pela desilusão, pela perda e pelo sofrimento, desnudadas em Just Pretend, I´ve Lost You e You Dont Have To Say You Love Me. São ótimos exemplos da versatilidade de Elvis, um vocalista supremo que interpreta cada peça como uma história a parte e por consequencia, interpreta em cada uma delas um personagem diferente.

Deve-se dar destaque absoluto a Just Pretend e I´ve Lost You. A primeira é tingida pelo gospel, cheia de rancor e reminiscente das faixas mais desesperadas do American em 1969.  I´Ve Lost You  é precisamente o tipo de balada que Elvis deveria ter gravado com mais frequencia nessa década.

Curiosamente, ainda que as faixas originais sejam de imensa qualidade, dois covers de Elvis são sem sombra de dúvidas os grandes destaques do álbum. O primeiro é sua belíssima versão de Bridge Over Troubled Waters. Trata-se indubitavelmente, de um dos mais belos trabalhos de Elvis em toda sua carreira e é possivelmente a versão definitiva desse clássico da dupla Simon & Garfunkel. Elvis da a ela uma releitura apaixonada, sincera e emocionada. É quase um gospel, com cada sílaba da composição cantada com fervor, como se as palavras caminhassem por seu coração, por sua alma e finalmente criassem vida através de sua voz.

O mesmo ocorre em You´ve Lost That Lovin Feeling. A entrega de Elvis é total, a paixão na sua voz é evidente e o resultado final é uma versão arrebatadora de um dos maiores estandartes da música americana.

O álbum ainda conta com sua versão do sucesso de Dusty Springfield, You Dont Have To Say You Love Me, faixa de maior sucesso do disco transformada em compacto, e Stranger In The Crowd, boa canção interpretada com muito gosto.

Soma-se a isso sua investida no fabuloso rock Patch It Up e na simpática The Next Step Is Love. A primeira infelizmente foi substituída pela versão ao vivo, claramente inferior a sua irmã de estúdio mas ainda contagiante e a segunda, penúltima faixa do disco, bebe da fonte dos Beatles como inspiração para o compositor Paul Evans.

Com canções originais e covers impecáveis, Thats The Way It Is é testemunho do grande talento de Elvis e o que ele fez de melhor na sua última década. É um sucessor a altura, embora menos importante artisticamente, do album que representou seu renascimento artístico no final da década de 60.

Sucesso de vendas, garantindo a Presley mais um disco de ouro e bem recebido pela crítica da época, ainda seriam necessários mais de trinta anos para que o álbum recebesse o devido reconhecimento da crítica especializada, consolidado pela Rolling Stone em 2003:

Na época do seu lançamento, o álbum de Elvis Presley de 1970 Thats The Way It Is foi recebido simplesmente como o mais recente numa série de retornos do Rei. O disco é uma estranha mistura de faixas ao vivo com trabalhos de estúdio, interligados por um grande show em Vegas; também é magnifico. Tirando sua inspiração do movimento Kris Kristofferson de cantores-compositores que se estabelecia em Nashville no começo dos anos setenta, Thats The Way It is é a mais madura coleção de canções de Presley.

Diferente da sua estratégia padrão, Parker permitiu que Elvis gravasse sucessos recentes de outros artistas. Não importa quem fez o original, Presley é um cantor superior.

-Tom Nawrocki, Rolling Stone, 26/06/03.