Moody Blue- Por Sergio Biston

Moody Blue é o adeus musical de Elvis. O disco que encerra sua carreira e último lançamento ainda em vida, tem uma origem atribulada. Montado em parte com o que Elvis gravou em Fevereiro e Outubro de 1976, em sua casa, na famosa Jungle Room, o álbum revelou-se um desafio para Felton Jarvis, que com pouco material em mãos, não conseguia a cota mínima de de 10 canções para compor o disco.

Indiferente a isso, a RCA pressionava  o produtor para que os três álbuns e seus respectivos compactos previstos em contrato fossem cumpridos. Elvis por sua vez encontrava-se cada vez mais relutante em voltar ao estúdio e enfrentar os mesmos problemas criados pelas exigências contratuais de sua gravadora e seu empresário. Um sopro de esperança apareceu em Dezembro daquele ano, quando Elvis sentiu-se suficientemente motivado à voltar a um estúdio e novas sessões foram marcadas para Janeiro de 1977.  O material gravado seria utilizado para finalizar o disco e finalmente coloca-lo nas prateleiras. Infelizmente a motivação de Elvis esvaiu-se rapidamente e o cantor nunca compareceu às gravações.

Sem material Jarvis perseguiu desesperadamente Elvis por várias cidades dos Estados Unidos, munido com um gravador portátil de 4 canais, na esperança de registrar em turnê, alguma música inédita ou performance rara no palco. O que Jarvis conseguiu foi praticamemente nada. Do material gravado ao vivo, capturou uma fraca versão do country If You Love Me Let Me Know e na falta de qualquer material viável, tascou Little Darling, uma paródia cantada de brincadeira por Elvis, como parte do LP. Como último recurso, sem mais nada nas mãos, resolveu colocar a faixa Let Me be There, gravada três anos antes e lançada no LP que registrou o show em Memphis. Como pretexto, usou a desculpa de que a canção voltava à pedido do público, devido ao seu grande sucesso.

A empreitada desesperada de Jarvis teve entretanto um triunfo, o registro da magistral Unchained Melody. Sombria e sublime, amostra da grandiosidade de Elvis como intérprete mesmo em seus últimos momentos, tornaria-se um dos momentos mais emocionantes do disco, mas não sem antes passar por overdubs que mascarariam a simplicidade do piano de Elvis e arrendondariam a nota final.

Felton usaria a canção para abrir o disco, seguindo-a com as duas outras faixas capturadas nos palcos de 1977. A primeira faixa de estúdio é a releitura de Elvis para He´ll Have To Go, irônicamente a última canção gravada por ele em um estúdio. Sua versão é anos luz da que ficou conhecida na voz de Jim Reeves. Ao invés de um country choroso, é um "meio country" - "meio blues", com uma pitada de malícia. A guitarra melancólica de Weldon Myrick completa perfeitamente o clima.

Let Me Be There, a faixa reciclada do álbum de Memphis fecha o lado A. O outro lado do disco é muito mais consistente e empolgante, abrindo com a fantástica Way Down, o último Rock legítimo gravado por Presley. É um delicioso retorno ao estilo que o consagrou, com direito a guitarras agressivas e o baixo inconfundível de JD Sumner.

No mesmo clima de revival, está a nostálgica Pledging My Love, surgida num momento de espontaneidade entre Elvis e a banda. A empolgação de Elvis é palpável nos quase três minutos resultantes da edição feita por Felton. É mais um exemplo de que a canção certa, no momento certo, ainda era capaz de despertar a paixão de Elvis em cantar.

As três faixas finais do disco misturam country e um leve flerte de Elvis com a música disco, na forma de Moody Blue. Composição de Mark James, o mesmo autor de Suspicious Minds, Moody Blue foi combinada com She Thinks I Still Care e lançada como o primeiro compacto extraído do disco, obtendo sucesso moderado nas paradas POP e subindo virtiginosamente ao topo das paradas Country. O lado B também emplacou o primeiro lugar, caso raro onde ambos os lados chegam a primeira posição.

A faixa que fecha o último álbum de Elvis Aaron Preley é a "semi-biográfica" e tocante Its Easy For You,  composta especialmente para o cantor por Andrew Lloyd Webber, atualmente um dos mais conceituados escritores da Broadway.

Assim termina o legado musical de Elvis Presley. Prensado em vinil azul e embalado numa capa que trazia uma discreta e distante foto de Elvis em 1972, o disco chegou as lojas americanas em Julho de 1977, um mês antes da morte de Elvis. As vendas foram regulares, mas sinalizavam uma melhora quando comparadas à de seus antecessores, "Today" e "From Elvis Presley Boulevard".

 Com a morte de Elvis o disco galgou rapidamente as posições da Bilboard e se estabeleceu na terceira posição. O compacto Way Down/ Pledging My Love teve destino semelhante.

Moody Blue representa o desfecho de uma carreira de 23 anos, uma jornada sem precedentes no mundo da música. Como álbum pode ser inconsistente e por vezes absurdo, mas por entre os sulcos do vinil estão registrados os últimos momentos do artista em seu ambiente natural, ainda capaz de brilhar e emocionar, da mesma forma que fez initerruptamente por toda a sua breve vida.