Good Times – Por Sergio Biston

Lançado apenas cinco meses depois de Raised On Rock, Good Times é um sopro de ar fresco após o resultado melancólico de seu antecessor. Reunindo boa parte do melhor gravado em Dezembro de 1973, o segundo álbum da trilogia Stax se benefecia do estado de espírito revigorado do cantor. O álbum é resultado de uma jornada física e espiritual que começa meses antes, em Outubro de 1973. Mais de um ano após Priscila ter comunicado oficialmente sua intenção de se separar do cantor, o divórcio foi finalmente finalizado na Califórnia. Numa corte em Santa Monica ,de mãos dadas, Priscilla e Elvis deixaram o recinto. Ela parece feliz, liberta de uma relação de altos e baixos extremos, olhando determinada para o futuro. Ele parece apático, seu olhar perdido e sua aparência inchada, como se a vida tivesse sido sugada de seu corpo. Apenas seis dias depois ele seria internado para uma série de exames que detectariam uma grave adicção à Demerol, além de depressão e uma série de outros problemas de saúde, quase todos agravados pelo uso abusivo de medicamentos. Linda Thompson ficaria ao seu lado no decorrer de toda a internação, praticamente hospitalizada junto de seu namorado. Linda supria Elvis com afeto e dedicação enquanto os médicos tratavam sua mazelas. Lentamente Elvis foi se recuperando e após duas semanas, pode voltar a Graceland. O tempo fora provou ser extremamete benéfico. Pela primeira vez em muito tempo Elvis parecia estar numa aspiral ascendente, divertindo-se em noitadas no cinema, assitindo TV em seu quarto ou saindo para passeios noturnos com Linda na garupa de sua Harley. Na casa dos parentes dela, entre amigos, Elvis encontrava o ambiente perfeito para improvisar sessões músicais usando um velho violão. De certa forma, a velha chama voltava a brilhar. 

O próximo passo natural dessa recuperação foi entrar mais uma vez em estúdio para fazer aquilo que sempre foi parte da sua vida. Foi nesse cenário promissor que Elvis gravou o que seria a maior parte do álbum Good times. Entre os dias 10 e 16 de Dezembro, no mesmo estúdio usado em Julho, Elvis colocaria sua voz em 18 composições, dentre elas algumas de suas melhores gravações. Como é característica dos seus discos, o trabalho é composto por originais e covers de outros artistas revitalizados pelo estilo único de Presley. Nesse caso os covers são a maioria absoluta, representando nove das dez canções do álbum. Ironicamente o disco abre com a paupérrima Take Good Care Of Her, colhida das sessões de Julho e que reflete impiedosamente o estado de torpor em que Elvis se encontrava naquela ocasião. Felizmente Loving Arms mostra logo na segunda faixa a qualidade e exuberância desse novo momento. Composta por Tom Jans, é uma das  baladas nais bonitas gravadas por Elvis. Arranjos perfeitos combinando com uma interpretação apaixonada de Presley. Impossível não se arrepiar ao ouvi-lo entregar sua alma na terceira estrofe da canção.  I Got A Feeling In My Body, a única original do disco, é o destaque absoluto do LP. Um gospel-rock de primeira grandeza composto pelo mesmo autor de Burning Love, Dennis Linde. Elvis captura toda a energia da composição, deixando o ouvinte grudado na batida hipnótica do baixo e nas vozes absurdamente setentistas e cheias de alma dos backing vocals. Na mesma veia bem humorada e contagiante vem Talk About The Good Times, numa performance deliciosamente descontraída e despretenciosa.

Entre os covers, releituras soberbas de Good Time Charlie Got The Blues, linda na simplicidade do arranjo com violão ( "vamos manter o básico", orienta Elvis durante as gravações) e I´Ve Got A Thing About You Baby, numa releitura country com levada pop simplesmente sensacional mas que nunca obteve a atenção merecida dos críticos. Completando o vinil, faixas menores como os countrys Spanish Eyes,  She Wears My Ring e o gospel de If That Isnt Love. Mesmo inferiores, elas são beneficiadas pelo empenho e entrega total de Elvis nas suas execuções.

Infelizmente  Good Times sucumbiu nas paradas de sucesso, atigindo a mísera  90ª posição e vendendo apenas 200.000 cópias. No Brasil, o disco sequer foi lançado. A redenção ficou por conta dos compactos extraidos do álbum. My Boy  atinge a 5ª posição no Reino Unido e I´ve Got A Thing About You Baby/Take Good Care Of Her vende mais de 500.000 cópias. My Boy é também sucesso no Brasil, o que justifica sua inclusão na versão brasileria do disco Promised Land.

Apesar do fracasso comercial, Good Times representa um dos melhores trabalhos de Elvis no meio dos anos 70, mostrando um artista revigorado, com vontade de gravar e principalmente, presente novamente de coração e alma naquilo que sempre foi sua verdadeira essência: A música.