“Cantai alegremente a Deus, nossa fortaleza; erguei alegres vozes ao Deus de Jacó. Entoai um salmo, e fazei soar o adufe, a suave harpa e o saltério.” - Salmos 81:1-2

A música gospel teve profunda influência na formação musical de Elvis Presley, marcando sem sombra de dúvida, sua infância e vida adulta. O cantor não raramente recorria a ela em seus momentos de intimidade com amigos e familiares.

Não é de se surpreender portanto, que ele tenha feito investidas nesse campo musical, lançando um extended play e três álbuns com músicas sacras.

Curiosamente, embora tenha sido precursor do movimento musical revolucionário na década de 50, conhecido como Rock ´N´Roll, foi somente nesse estilo musical que Elvis obteve algum reconhecimento da crítica especializada.  Com How Great Thou Art Elvis recebeu o primeiro prêmio Grammy de sua carreira, quase doze anos após dar o pontapé inicial nos estúdios de Sam Phillips.

Com He Touched Me, seu último disco gospel, Presley repetiu a façanha.

Lançado em Abril de 1972, período em que estava em grande momento na carreira, o disco foi rapidamente consumido pelo público e crítica, que não poupou elogios ao trabalho:

“O material, tanto o tradicional quanto o novo, é excelente e a produção nunca é exagerada. Mas mais do que tudo, Elvis curte as canções; ele se importa e ele está magnífico.

Além disso, para um álbum sacro a seleção do material é agradavelmente  diversificada. Da beleza espiritual de faixas como He Touched Me, Reach Out To Jesus e Lead Me, Guide Me, Elvis passa sem esforço para o country-funk com A Thing Called Love (ótima faixa, grande arranjo para esse recente sucesso de Johnny Cash)”

Apropriadamente, o disco abre com a canção título, He Touched Me, que se inicia com a bela harmonia dos Imperials. Com letra bem elaborada, Elvis segue com performance tocante. É difícil não se emocionar na parte final, com Elvis subindo a voz em

“Something Happened,

 And Now I know,

He touched me,

and made me whole”

A harmonia dos Imperials é soberba e nunca se torna excessiva, bem como a instrumentação guiada por um piano presente mas nunca por demais proeminente.

He Touched Me faz parte da leva contemplativa do álbum, composta por belíssimas canções de louvor como Lead, Me, Guide Me e Reach Out To Jesus. Nela temos canções que falam diretamente a alma, passando uma mensagem de conforto e inspiração, seja você crente ou não.

Em ambas as canções temos Presley exercendo seus dotes vocais com maestria, sabendo como só ele a medida certa entre emoção e razão. Sua interpretação em Lead Me, Guide Me é acertadamente sóbria, forçando apenas algumas partes escolhidas, como que sublinhando trechos importantes de um texto sagrado. Já em Reach Out To Jesus temos uma vocalização mais “apaixonada”, carregada no “soul” como a de um verdadeiro pecador que descobre em Cristo a sua absolvição.

Mas o disco não é somente contemplativo. I´ve Got Confidence e Seeing Is Believing, dois fabulosos “Gospel-Rocks”, levam o ouvinte para uma das casas do Senhor no interior dos EUA sulista e nos põe no meio de um coral negro, batendo palmas e dando graças. Aleluia irmão!

Deve-se também dar destaque a fabulosa Amazing Grace, tingida com muita alma e interpretada com o coração. O piano é o destaque desse grande número, juntamente com as vozes femininas, adicionando o blues dos negros a essa canção sacra. Elvis mais uma vez mostra excelência ao “pregar” a canção. Mais uma vez, o destaque para a parte final, com Elvis dando tudo de si nesse popular hino religioso.

Há também momentos mais leves e divertidos, como em, Bossom Of  Abraham, There´s No God But God e a cativante I, John. Despretensiosas, elas servem muito bem seu papel de “fillers”, dando um toque mais leviano ao álbum, por assim dizer.

O único ponto fraco do álbum são as faixas A Thing Called Love, An Evening Prayer e He Is My Everything. A primeira não funciona nem como inspiração tampouco como motivadora e a última é uma requentada em There  Goes My Evertything.

Mesmo assim, essas canções mais fracas não conseguem diminuir o brilho deste grande álbum da década de 70. Mesmo com alguns momentos mais fracos, a crítica reconheceu a qualidade deste trabalho de Elvis.

“Em suma, apesar de algumas falhas, He Touched Me é um revigorante e deliciosamente recompensador álbum de Elvis. Recomendo-o sem hesitações não apenas para seus fãs, como também para aqueles que querem se envolver com as raízes do rock n roll.”

He Touched me continua sendo um dos melhores álbuns de sua carreira, merecidamente ganhador do Grammy de melhor performance inspiradora, de 1972.

Acima de tudo, é uma obra inspirada e de inspiração, certamente capaz de atingir os mais duros corações e elevar o espírito.

Ninguém melhor do que o próprio Elvis para definir o maior legado dessas canções:

"Fazemos dois shows por noite, por duas semanas. Muitas vezes vamos para a suíte e cantamos até o sol raiar. Canções gospel. Crescemos com elas…elas aliviam a mente. Aliviam a minha.

Amén.

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