“Ouvir Elvis pela primeira vez, foi como escapar de uma prisão” – Bob Dylan

“Antes de Elvis, não havia nada” – John Lennon.

“...E depois dele não houve muita coisa” – Dito popular

Estampado na capa, um jovem bamboleante, vital, cheio de energia. A boca aberta, como num grito de liberdade, anunciando a todos um movimento musical revolucionário prestes a mudar conceitos e costumes, e influenciar até mesmo a sociedade. “Ouvir Elvis pela primeira vez, foi como escapar de uma prisão”, diria o poeta do rock, décadas mais tarde.

“Elvis”, rosa, “Presley”, verde. A foto escura não deixava aparecer o topete arrogante, a costeleta esquisita e a gola levantada. Mas o som que saia daquele bolachão não deixava dúvidas de que esse era um disco para jovens e não para os pais, acostumados a baladas açucaradas e à ( excelente) orquestra de Glen Miller.

Blue Sued Shoes  dá o chute inicial que irá rolar a pedra, numa versão explosiva da canção de Perkins, que naquele momento lutava para conseguir seu lugar nas paradas de sucesso.

A história desse clássico começa em 21 de Novembro de 1955, quando um ex-caminhoneiro do Tennesssee, cuidado de perto por seu empresário Tom Parker, realizava o sonho de todo menino pobre do Mississipi ao assinar um contrato com a RCA.

Se por um lado Elvis estava radiante diante das possibilidades, Steve Sholes devia estar suando frio. Acreditando no potencial do jovem cantor, Sholes convenceu a RCA a pagar por Elvis U$ 35.000, a maior quantia já paga por um artista country-western, até então.

No dia 22 de Dezembro Sholes enviou a Elvis uma série de demos, para que o cantor escolhesse o material que mais lhe agradasse. Presley selecionou apenas duas baladas: I´m Couting On You e I Was The One, posteriormente gravadas nos dias 10 e 11 de Janeiro de 1956.

Sholes estava preocupado, ainda mais quando a reação da RCA à Heartbreak Hotel foi estranhamente fria. Temendo o fiasco, Steve Sholes decidiu vasculhar os tapes adquiridos da SUN, na tentativa de amortecer o prejuízo. Com o que julgou ser o melhor dos tapes, Steve montou um EP com quatro canções.

Mas Heartbreak Hotel viria para arrebatar o mundo de surpresa, não sem antes dar mais um susto em Steve Sholes, demorando mais do que um mês para chegar às paradas de sucesso. Em algumas semanas o compacto atingiria a posição máxima e lá ficaria por oito semanas consecutivas, vendendo dois milhões de cópias até o final do ano.

As portas da revolução estavam abertas e o mundo da musica não seria mais o mesmo. Para Steve Sholes, o sinal estava verde para o primeiro álbum de seu grande investimento. Juntando as sobras da SUN e novas canções, Sholes montou o histórico álbum.

Lançado em 23 de Março de 1956 Elvis Presley ficou 10 semanas em primeiro lugar, vendendo 300.000 cópias e tornando-se o álbum mais vendido da história da RCA.

E é possível imaginar o olhar desaprovador do pais, enquanto seus filhos ouviam I Got A Woman, Trying To Get To You , Tutti Frutti e Money Honey. Clássicos rockabilly cuja sonoridade permanece jovem mesmo com mais de cinqüenta anos de idade. Ha também pop e country de qualidade neste marco do rock. A deliciosa Im Gonna Sit Right Down And Cry Over You e a ingênua balada Im Counting On You são bons exemplos dessa categoria, enquanto One Sided Love Affair e Blue Sued Shoes se destacam pelo estilo contagiante e inigualável de Elvis.

A grande surpresa, talvez a melhor faixa do álbum, fica por conta da balada SUN, Blue Moon. Levada por uma batida hipnótica, a canção é notável pela sensação de desolação, criada principalmente pelo famoso “eco SUN” e pela técnica do guitarrista Scotty Moore, tocando as cordas de maneira a simular o cair de gotas de chuva.

Algumas canções, entretanto, parecem deslocadas. É o caso de I Love You Because, I´ll Never Let You Go Little Darling e Just Because, tiradas dos tapes da SUN, adquiridos pela RCA quando da assinatura do contrato. Embora sejam canções com algum apelo, elas parecem não se encaixar no meio do material mais inovador como Money Honey e Tryin To Get To You. Mesmo assim, o álbum consegue funcionar como um todo, especialmente no material mais rápido que caracterizava o movimento rockabilly.

Curiosamente, embora seu primeiro álbum seja considerado um marco na indústria fonográfica, ele não inclui o material mais revolucionário de Presley, pois Heartbreak Hotel ficou de fora do disco, lançado somente como compacto e aparecendo no formato álbum anos mais tarde.

Mesmo assim, Elvis Presley, o álbum, conseguiu seu lugar no panteão dos clássicos da música. Idem para Elvis Presley, o garoto.

Indispensável na coleção de qualquer amante da música moderna, este álbum marca o início de uma lenda. E desde aquele distante ano de 1956, a pedra nunca mais deixaria de rolar.