Elvis Now– Por Sergio Biston

Lançado em Janeiro de 1972, Elvis Now é fruto de uma sessão cheia de boas intenções, em Nashville, no ano de 1971. O objetivo era duplicar o sucesso da maratona do ano anterior e produzir um disco gospel, um álbum natalino e alguns compactos. Elvis tinha também um projeto particular, o de gravar um álbum de música folk, um estilo que havia caido em seu apreço. Infelizmente as intenções foram por terra quando Elvis foi afetado por problemas oculares, que o obrigaram a cancelar as gravações após uma passagem pelo hospital. Presley voltaria em Maio e Junho para arredondar as canções natalinas e o material sacro, mas o projeto folk parece ter ficado para trás. Com pouca coisa restando além do material sasonal e do gospel, a gravadora decidiu cerzir uma colcha de retalhos usando sobras de outras sessões e de diferentes momentos da carreira de Elvis e assim criar um álbum pop viável. O resultado é um disco que atira para todos os lados, sem nunca acertar um alvo, mas que traz faixas excelentes em sua individualidade. Por isso ao invés de analisar o álbum como um todo, o ouvinte deve encarar as canções como peças em separado, representativas de diversos estilos e momentos do intérprete.

O material folk é sem dúvida o melhor do disco, com covers excelentes de Early Morning Rain, Help Me Make Through The Night e da balada Untill Its Time For You To Go. Elvis está fantástico nas três faixas, com interpretações contemplativas e arranjos precisos. Untill Its Time For You To Go é deliciosamente melancólica, enquanto Help Me Make é tingida de rancor. Trilhas sonoras perfeitas para as tardes nubladas. We Can Make The Morning é outra que merece atenção especial. Faixa de sonoridade interessante com letra marcante e vocalização envolvente.

O disco conta também com duas músicas sacras, muito possivelmente sobras do projeto gospel. Uma é a fraquíssima Miracle Of The Rosary, a outra é a surprendentemente cativante Put Your Hand In The Hand, que certamente ficaria muito melhor alocada no disco He Touched Me, talvez substituíndo a requentada He Is My Everything.

Entre as faixas menores, uma releitura com solo de guitarra copiada nota por nota do clássico de Ricky Nelson Fools Rush In e uma bizarra Hey Jude, gravação descartada das sessões do American em 1969 em que a voz de Elvis contrasta brutalmente com as demais faixas do vinil.

O compacto brasileiro com Sylvia.

Mesmo com o sucesso em terras tupiniquins, Elvis Now não teve nenhum impacto na carreira de Elvis, passando desapercebido por público e crítica e eclipsado por dois "monstros" do próprio Elvis: As Recorded Live At Madison Square Garden e He Touched Me, o disco gospel originado da mesma sessão, que lhe renderia um Grammy. Além deles, Burning Love estouraria nas paradas pelo mundo todo, deixando seu primeiro disco do ano ainda mais ofuscado. Entretanto, mesmo como um projeto inacabado e remendado, Elvis Now proporciona bons momentos aos ouvintes, especialmente para aqueles que conseguem enxergar a obra de Elvis sob um aspecto mais amplo: O do artista sem fronteiras musicais.

Celly Campelo e sua versão para Put Your Hand In The Hand

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