Após o sucesso de seu especial para TV e do respectivo álbum, Aloha From Hawaii, ter alcançado a primeira posição na Billboard, criou-se uma expectativa muito grande para o próximo disco de Elvis. Infelizmente essa expectativa se transformou em frustração com o lançamento de ELVIS, ou Fool, como é mais conhecido este álbum de 1973.

Sem qualquer direção musical e aproveitando-se da popularidade de seu antecessor, o álbum trouxe uma compilação de sobras de diversas sessões entre 1971 e 1972, transformando-o numa colcha de retalhos de pouca representatividade artística e muito distante do trabalho apresentado no disco anterior.

Não que as canções sejam ruins, a maioria não o é, mas a falta de direção num caldeirão de estilos, situações, interpretações e vocalizações, tornam o produto final uma massa insípida. E essa é a grande tragédia deste lançamento, pois quando  analisadas individualmente, a maioria das composições mostra potencial e transformam-se em boas audições.

Faz-se necessário portanto, que o ouvinte busque dentro de compilações sessionográficas (como o CD 6363 Sunset Boulevard) aprecia-las dentro de seu contexto original.

 A boa canção de abertura por exemplo, Fool, provém da sessão de Março de 1972  e é um “primo pobre” de Always On My Mind e Separate Ways, duas das melhores canções gravadas por Elvis nesta ocasião. Em contrapartida é melhor do que Where Do I Go From Here, um country insosso oriundo da mesma sessão acima citada.

Cabe a Love Me, Love The Life I Lead impulsionar o álbum e elevar a qualidade. Original das sessões de Nashville em 1971, não é estranho que o ouvinte sinta uma sensação de “produto inacabado” ao ouvi-la, pois Elvis não havia ficado contente com sua vocalização e pediu que Felton, seu produtor, segurasse a canção até que ele pudesse voltar e melhora-la. Ao que parece, Elvis não mais demonstrou interesse pela composição e restou a Felton Jarvis lança-la neste álbum, dois anos depois. O mesmo aconteceu com Padre e Presley teria ficado furioso ao saber que ela havia sido lançada, pois tinha dado ordens expressas a Jarvis que engavetasse a música, uma vez que não havia ficado satisfeito com sua performance na mesma. Com razão, Padre é pavorosa e inferior em tudo. A vocalização de Elvis é exagerada, justificando seu engavetamento pelo próprio cantor.

Felizmente o álbum conta com canções como That´s What You Get For Loving Me, Dont Think Twice, Its All Right - clássico “Bobdylaniano” que mostra o potencial não aproveitado para o especulado álbum Folk de Elvis em 1971 -, e Its Impossible, baladona gravada ao vivo em Vegas e que mostra uma mistura fina entre controle e suavidade vocal.

Seguindo a mistura “samba-do-crioulo-doido”, três performances informais de Elvis ao piano, refletem o desespero da RCA para achar material suficiente para arredondar o bolachão. Mesmo que completamente deslocadas e inapropriadas em um álbum de carreira, são talvez as faixas mais interessantes do disco. São de beleza ímpar e revelam um artista que canta com a alma e o coração. É impossível não se emocionar ao ouvir Presley rasgar-se em I Will Be True e Its Still Here, duas performances deliciosamente depressivas onde Elvis põe o ouvinte numa sala vazia, de janelas de luz pálida e paredes nuas ao cantar os versos de desespero e esperança. E como numa história, as canções se completam criando uma bonita declaração de amor eterno.

Mesmo com performances como estas, “Fool”, o álbum, não se segura como um todo e e além da falta de direção artística é comprometimento por algumas performances vocais abaixo do padrão. É entretanto, grande exemplo da versatilidade de Elvis ao abordar estilos tão diferentes e contrastantes e, fosse em outra ocasião e dentro de um  contexto coerente, figuraria dentre seus melhores trabalhos. Ao que se apresenta, porém, é claramente um álbum de sobras, indigno de suceder um álbum tão relevante na discografia de Presley como é o Aloha From Hawaii.