Elvis Collectors Brasil

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Neste CD, a FTD traz a lendaria sessão de gravação que se deu em Graceland no ano de 1976:

Músicas:

Bitter They Are, Harder They Fall (Take Alternativo 2-5)
She Thinks I Still Care (Take Alternativo 2A)
The Last Farewell (Take Alternativo 2)
Solitaire (Take Alternativo 3)
I'll Never Fall In Love Again (Take Alternativo 5)
Moody Blue (Take Alternativo 3)
For The Heart (Take Alternativo 2 & 3)
Hurt (Take Alternativo 3)
Danny Boy (Take Alternativo 8)
Never Again (Take Alternativo 11)
Love Coming Down (Take Alternativo 2)
Blue Eyes Crying In The Rain (Take Alternativo 2)
It's Easy For You (Take Alternativo 1)
Way Down (Take Alternativo 2)
Pledging My Love (Unedited Master)
He'll Have To Go (Rough Mix - Master)
Fire Down Below (Instrumental)

 

A Destruição de um Mito- Por Sergio Luiz Fica Biston

 

 

O ano de 1975 terminou para Elvis com um gigantesco show em Pontiac, Michigan, para 60.500 fãs, a maior platéia de Elvis. Foi um ano que presenciou um Elvis que, apesar de alguns problemas de saúde, deu seu melhor durante praticamente o ano inteiro. Alguns de seus melhores shows aconteceram em Julho daquele ano e suas apresentações em Vegas em Março e Dezembro também mostraram um cantor no auge de sua forma.

 

Mas 1976, seria diferente em alguns aspectos. A dependência de Elvis em medicamentos receitados, era mais uma vez uma séria ameaça e começava a afetar seu comportamento da mesma forma que o fez na ultima turnê de 1974. A solidão, o problema de peso e o fato de sua longa amizade com os irmãos West estarem ruindo, fez ainda mais para agravar a depressão pela qual passava. Além disso, Elvis tornava-se cada vez mais recluso. Fora sua viagem à Vail, Colorado, Elvis permanecia a maior parte de seu tempo livre em Graceland, ao ponto da RCA levar seu equipamento móvel para sua casa e assim conseguir algumas canções novas para futuros projetos. É exatamente neste ponto que a FTD Poe o ouvinte com o lançamento de Jungle Room Sessions.

As canções gravadas em Fevereiro e, mais tarde em Outubro do mesmo ano, resultaram em dois albuns: From Elvis Presley Boulevard e Moody Blue. O primeiro trazia as gravações de Fevereiro e o segundo as canções de Outubro, adicionado de faixas ao vivo. O que impressiona o ouvinte , tanto o fã casual quanto o aficcionado,  é o excesso de overdubs feitos por Felton Jarvis na mixagem das canções, nestes álbuns. De acordo com a lenda, essa mixagem pesada havia sido feita para mascarar a voz fraca de Elvis e suas falhas vocais. Elvis estava tão mal que havia perdido seu toque mágico.

“The Jungle Room Sessions” é a prova definitiva de que a  “lenda” estava errada e que Felton Jarvis foi um péssimo produtor, ao menos neste derradeiro trabalho de Elvis. O mito é finalmente destruído.

O som limpo, claro, preenche todo o ambiente e as performances nuas destroem qualquer dúvida sobre o poder e condição vocal de Elvis durante essas sessões. É quase como uma sentença: “Esqueça o que você ouviu até agora...Essa é a verdadeira história.”

É claro, entretanto, que a maioria das performances não são tão boas quanto seus respectivos masters, mas a emoção colocada por Elvis em cada uma das canções mais do que compensa essa discrepância. É o caso, por exemplo, de It´s Easy For You onde Elvis, enxugando uma lágrima, diz suavemente antes de iniciar novamente a canção: “Me emociono facilmente...Emotivo filho de uma puta.” Segue-se uma versão fenomenal dessa pérola perdida da discografia de Elvis.


Embora  sua vida não fosse mais marcada pelo amor e pela alegria, como um dia fora, e que sua saúde estivesse o mais fragilizada possível, sua voz não foi afetada e este disco é a prova final disto.

 

             

                                    



 

                                                   Elvis, na sala de T.V., Graceland, em Fevereiro de 1976


As canções, entretanto, refletem perfeitamente o momento pelo qual Elvis passava, com algumas exceções. São canções sobre perdas,solidão e desespero. Canções que refletiam suas emoções e sua vida pessoal. Essas canções são uma fascinante viajem

À mente de Elvis e o mais revelador documento do que no fim, foi responsável pelo seu fim.

É necessário antes, compreender os sentimentos de Elvis neste momento conturbado de sua vida, para aí sim poder apreciar estas canções

 

Outro ponto no qual os produtores obtiveram sucesso é em transportar o ouvinte para “dentro” da sessão de gravação. Essa imersão se deve à inclusão do bate papo entre Elvis e os músicos, as piadas e a contagem regressiva antes do inicio do take, que recriam magnificamente o ambiente e põe o ouvinte no meio da Jungle Room. O cachorro latindo e interrompendo o take de “Bitter They Are, Harder They Fall” é impagável.

Até mesmo aqui, o CD destrói outro mito: O de que Elvis estava de mau humor durante as sessões. Se algo o incomodava, ele certamente o deixou de lado, como pode-se ouvir no começo de The Last Farewell, onde Elvis solta sua lendária contagiante risada.

Elvis transborda emoção em canções como Never Again, Love Coming Down e He´ll Have To Go.

Sua performance em Its Easy For You é perturbadora. A canção é uma declaração, um livro aberto para todos os seus fans, resumindo perfeitamente toda a dor sentida após Priscilla deixar sua vida.



Loving  Coming Down é um pedido de desculpas e um pedido para uma segunda chance. Elvis canta: Você não consegue ver que tudo o que aprendi será em vão, se você me deixar? Se você me der apenas mais uma chance, eu prometo, estarei sempre ao seu lado, quando você precisar. A sinceridade corta como uma faca...

A fantástica voz de Presley é magnificamente demonstrada em “Hurt”. Mais do que qualquer coisa, a canção mostra como a voz de Elvis se desenvolveu com o passar dos anos, e como seu poder vocal era superior, quando realmente decidia demonstrar. O take presente neste CD ( Take 3) entretanto, tem um começo fraco, onde Elvis não acerta a frase inicial. A canção é interrompida e Elvis limpa sua garganta, mas mesmo assim este take ainda não soa tão bom quanto outros takes vindouros. A nota final, entretanto, é atingida com perfeição e Elvis irá fazer uma versão fantástica mais adiante, que irá se tornar o Master. Dave Marsh em sua biografia sobre o rei, escreveu sobre essa canção: “É a ultima canção genuinamente majestosa gravada por ele” . Caso Encerrado.

Elvis também demonstra que não perdeu nada de sua magia nas canções mais agitadas como Moody Blue e For The Heart, e que ainda podia incendiar o ouvinte com o velho e bom Rock´n´Roll, em Way Down. O take presente nesta compilação é simplesmente fantástico e o break de piano no meio, encaixa-se perfeitamente na concepção musical da canção. Infelizmente, este break foi eliminado no produto final.

 

 


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                                     Elvis recebendo a identificação da Reserva de Polícia

                                                 de Memphis em 3 de Fevereiro de 1976, Durante as

                                                   gravações em Graceland.© Elvis Candid Central

 

 


 

A divertida interpretação de Elvis no antigo clássico “Pledging My Love” ilumina a canção e sua recusa em terminar a canção, repetindo e repetindo os versos finais, mostra como Elvis estava se divertindo com a canção. Um prazer para os ouvidos atentos.
A ousada idéia de gravar Danny Boy somente com o piano, transforma uma musica outrora entediante, em uma canção emocionante e sincera . Outra demonstração do talento de Elvis e de como ele usava sua voz para envolver o ouvinte.

As duas ultimas surpresas do disco são Theres a Fire Down Below-uma faixa instrumental apenas, a qual serviria como backing para Elvis gravar futuramente, o que infelizmente nunca ocorreu- e os segundos finais de America The Beautiful, que se inicia segundos após o final da ultima faixa e não está creditada no CD. A impressão que se tem, é a de que a canção foi apagada e estes segundos finais, são tudo o que resta. Assim, com esses misteriosos segundos,termina este fantástico CD da FTD.

 

 

                                                 

 

                                      Elvis recebendo um distintivo da polícia, em 29 de Outubro de 1976,

                                                      durante as Gravações.© Elvis Candid Central

 

 

As canções gravadas na famosa “Sala Da Selva” em Graceland, seriam lançadas nos dois álbuns, anteriormente mencionados. From Elvis Presley Boulevard alcançaria a 41º posição nos EUA e a 29ª posição no Reino Unido. Moddy Blue saiu-se melhor, alcançando a 3º posição nos EUA e Reino Unido. Três singles foram lançados para promover os álbuns: Hurt/For The Heart, 28ª posição nos EUA e 37ª no Reino Unido, Moody Blue/She Thinks I Still Care, que alcançou a 31º e 6º posição nos EUA e Reino Unido, respectivamente, e Way que tornou-se o último número 1 de Elvis no Reino Unido, mas ficando “apenas” com a 18º posição nos EUA.

Perto do fim, Elvis estava tendo suas melhores classificações na parada Country e seus últimos singles dominaram o topo das paradas. Hurt ficou em 6º, e tanto Moody Blue como Way Down ( um rock na parada Country!) atingiram a 1ª colocação.

 

O ano de 1976 foi certamente um ano cruel para Elvis. Mesmo com tantos problemas pessoais e de saúde, ele cruzou o país quase ininterruptamente por nove meses. Sua saúde frágil afetou muitos de seus shows durante a turnê de verão. Felizmente, as coisas melhorariam em Setembro e Outubro, quando seu cólon-causa de dores excruciantes – voltou a funcionar normalmente, seu peso diminuiu consideravelmente e ele pareceu encontrar conforto nos braços de uma jovem chamada Ginger Alden. Essa foi a motivação que Elvis necessitava e em Novembro e Dezembro, ele estava em excelente forma física. A turnê de Dezembro mostrou um Elvis no seu melhor, culminando com a lendária apresentação em Pittsburgh no ano novo, um de seus melhores shows.

As canções gravadas em Fevereiro e Outubro daquele ano, representam o último trabalho de Elvis. Seu coração e alma estão nessas canções que falam sobre amor e solidão. Este último documento de um verdadeiro artista em seu ambiente de criação assume ainda mais importância, devido ao seu contexto histórico e ao fato de que Elvis nunca revelou-se tão abertamente ao público como fez durante essas sessões derradeiras. E neste sentido “The Jungle Room Sessions” é tão historicamente importante quando as suas performances, pois mostra que Elvis era um artista mágico, até os últimos dias.

Ele não foi um grande artista por um ou dois anos isolados, mas sim por duas décadas quase contínuas. Incrédulos devem ouvir as evidências. A defesa encerra”-Dave Marsh.

 

Resenha: © Sergio Luiz Fica Biston. 02/07/2005


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