Mas a busca quase obssessiva de Ernst Jorgensen não revelou apenas fotos e documentos, ela também revelou descobertas sensacionais registradas em acetatos e nas velhas fitas de Sam Phillips.
Espalhados em 3 discos estão takes inéditos de Harbor Lights, Blue Moon e When It Rain It Pours. Alguns são apenas fragmentos ou false starts, mas outros, como o take 7 de Harbor Lights, proporcionam um vislumbre fascinante de um ainda inseguro Elvis e sua primeira experience num estúdio com acompanhamento. Entre os takes, as vezes é possível ouvir a conversa de estúdio dos músicos. Alguns poucos e preciosos segundos registraram a empolgação de Bill, Scott e Elvis antes de Blue Moon Of Kentucky, com o novo som que estavam criando.
Ou ainda, um Sam Phillips que não consegue esconder a empolgação: "Legal cara. Isso é diferente.
As maiores descobertas entretanto, estão no terceiro CD, contendo gravações das transmissões de rádio dos locais onde Elvis, Scott e Bill se apresentavam. A mais importante é sem dúvida, Little Mama. Durante décadas rumores persistentes falavam de sua existência, e relatos de pessoas que ouviram o suposto acetato que continha a canção inédita provocavam a imaginação dos fãs.
Little Mama fazia parte de um acetato que além dela, registrou também Tweedle Dee, Money Honey, Hearts Of Stone, Shake Rattle And Roll e  You´re Heartbreak, gravadas no Hayride em 5 de Março de 1955.
O acetato encontrou as mãos de Sherif Hanna, um dos maiores colecionadores conhecidos e foi necessária a tenacidade de Ernst para conseguir coloca-lo no projeto. Após anos de contínua repetição e de uma tentativa desastrada de tranferir o acetato para uma fonte digital, a gravação deteriorou-se a tal ponto de ter se quebrado fisicamente. Ao recebê-la, Ernst e sua equipe dedicaram-se imensamente à sua restauração. A qualidade sonora, dada as condições apresentadas, é mais do que satisfatória, tornando possível apreciar a canção inédita e a primeira versão ao vivo de You´re A Heartbreaker com a satisfação de quem descobre algo novo. O trabalho de restauração também permitiu sensível melhoria sonora na antiga versão de Hearts Of Stone, embora se de fato ela soa melhor do que a restauração feita pela MRS permanece um tópico aberto à discussão.
Outros acetatos também surgiram, contendo performances de That´s All Right e Shake, Rattle n Roll. Não importa que elas sejam prejudicadas por uma imensa quantida de chiados. Sua simples existência proporciona uma viagem a um passado que dava-se como perdido para sempre.
De certa forma o desgaste sofrido pelo tempo confere à essas gravações uma aura mística, como se nos fosse permitido entrar em uma máquina do tempo que leva o seu passageiro somente até um certo ponto, onde este pode vislumbrar o passado distante coberto por um fino véu intransponível. A busca ainda revelou duas entrevistas de Elvis, uma delas para Mae Boren Axton, que no ano seguinte viria a escrever Heartbreak Hotel, a música que lançaria Elvis para o mundo.
Nas primeiras páginas do livro, em suas palavras direcionadas ao leitor, Ernst reconhece o peso do projeto em sua vida e num dos momentos mais sinceros, escreve:
" A parte mais difícil foi deixa-lo ir, sabendo que novas fotos, novas informações, novas gravações irão aparecer. Mas isso é o melhor que eu soube fazer."
Ernst não poderia estar mais certo. Irônicamente, apenas algumas semanas após o anúncio do lançamento do livro, surgia na internet um vídeo contendo uma versão inédita de  I Forgot To Remember To Forget You, gravada numa data desconhecida no programa Hayride. Ela aconteceu como as descobertas mais fascinantes acontecem, totalmente ao acaso. Um rolo de fio metálico sem nome, esquecido num tocador que foi parar nas mãos de um colecionador de equipamentos de gravação antigos, sem a mínima idéia do tesouro que aquela gravação representava.
Alguns podem apontá-la como uma tremenda falta de sorte de Ernst, mas melhor do que isso é vê-la como a esperança concreta de que nem todas as pedras foram viradas, nem todo canto vasculhado e de que a busca continua na esperança de que algum baú esquecido guarde uma música inédita ou um show desconhecido.
Não faltarão desbravadores que, impulsionados pelo fascínio sem fim que Elvis exerce sobre aqueles que sua obra tocou, continuem a percorrer os quatro cantos do mundo atrás dessas relíquias. Continuaremos a sonhar com novas descobertas e enquanto elas não acontecem, continuaremos a ouvir todo e qualquer fragmento descoberto, tudo o que ele deixou registrado. Voltaremos aos livros, às fotos, aos filmes e as discussões de Internet. E principalmente para à música. Elvis continuará presente.
E tudo isso porque um dia, ele abriu aquela porta.



Conteúdo: 6/5
Som Estúdio: 5/5 
Som Ao Vivo: 3/5 *
Arte: 6/5
* Devido a diferença de fontes e datas, a qualidade sonora varia consideravelmente. A nota é uma média das faixas do disco.










































              

ó
 
A Boy From Tupelo
Estúdio, Outtakes, Ao Vivo.
® Sergio Luiz Fiça Biston, Agosto de 2012



 



® 2005-2012 Elvis Collectors Brasil. O conteúdo deste site, seus textos e layout são de exclusividade do mesmo. Qualquer reprodução do seu conteúdo sem prévia autorização dos proprietários é proibida e consiste em falta ética.



Disc 1: MRS Acetates, The Sun Masters & The RCA Masters

01 My Happiness 2:33
02 That’s When Your Heartaches Begin 2:52
03 I’ll Never Stand in Your Way 2:04
04 It Wouldn’t Be the Same (Without You) 2:09
05 Harbor Lights 2:38
06 I Love You Because 2:43
07 That’s All Right [45 RPM Master] 2:00
08 Blue Moon of Kentucky (45 RPM Master] 2:07
09 Blue Moon 2:44
10 Tomorrow Night 3:01
11 I'll Never Let You Go (Little Darlin’) 2:27
12 I Don't Care If the Sun Don't Shine 2:32
13 Just Because 2:34
14 Good Rockin' Tonight 2:15
15 Milkcow Blues Boogie 2:39
16 You’re a Heartbreaker 2:13
17 I'm Left, You're Right, She's Gone [Slow Version] 2:43
18 Baby Let's Play House 2:19
19 I'm Left, You're Right, She's Gone 2:38
20 I Forgot to Remember to Forget 2:31
21 Mystery Train 2:30
22 Tryin’ to Get to You 2:36
23 When It Rains It Pours 2:06
24 That’s All Right 1:59 [RCA single version]
25 Blue Moon of Kentucky 2:05 [RCA single version 78 RPM Master]
26 I Love You Because 2:45 [RCA LP version – spliced from takes 3 & 5]
27 Tomorrow Night 2:56 [RCA LP version – overdubbed and slowed down]



CD-2: Outtakes - April Sessions
Disc 2: The Sun Studio Sessions

01 Harbor Lights (takes 1-2, level adjustments) 0:33*
02 Harbor Lights (take 3/M) 2:53
03 Harbor Lights (take 4) 2:38
04 Harbor Lights (takes 5-6) 1:23*
05 Harbor Lights (take 7) 2:25*
06 Harbor Lights [take 8] 0:26*
07 I Love You Because (take 1) 0:23
08 I Love You Because (take 2) 3:28
09 I Love You Because (take 3) 3:36
10 I Love You Because (take 4) 0:40
11 I Love You Because (take 5) 3:28
12 That’s All Right (takes 1-2) 0:20
13 That’s All Right (take 3) 1:58
14 Dialogue 0:20
15 Blue Moon of Kentucky (slow tempo outtake) 1:08
16 Blue Moon (takes 1-3) 0:38 *
17 Blue Moon (take 4) 2:59
18 Blue Moon (take 5) 3:25
19 Blue Moon (takes 6-7) 0:53
20 Blue Moon [take 8] 3:01
21 Blue Moon (take 9/M) 2:44
22 Dialogue fragment (before “Tomorrow Night”) 0:11
23 I’ll Never Let You Go (Little Darlin’) (incomplete take) 0:49
24 Good Rockin’ Tonight (fragment from vocal slapback tape) 0:10 *
25 I Don’t Care if the Sun Don’t Shine (takes 1-2) 1:13
26 I Don’t Care if the Sun Don’t Shine (take 3/M) 2:35
27 I’m Left, You’re Right, She’s Gone (slow version, take 1) 3:00
28 I’m Left, You’re Right, She’s Gone (slow version, take 2) 2:51
29 I’m Left, You’re Right, She’s Gone (slow version, take 3) 2:51
30 I’m Left, You’re Right, She’s Gone (slow version, take 4) 0:10
31 I’m Left, You’re Right, She’s Gone (slow version, take 5/M) 2:40
32 I’m Left, You’re Right, She’s Gone (slow version, take 6) 2:40
33 I’m Left, You’re Right, She’s Gone (slow version, take 7) 1:35
34 How Do You Think I Feel (guitar slapback tape, rehearsal + take 1) 3:17
35 How Do You Think I Feel (guitar slapback tape, rehearsals) 1:14
36 When It Rains It Pours (vocal slapback tape, take 1) 1:37 *
37 When It Rains It Pours (vocal slapback tape, take 2 - rehearsal) 2:12*
38 When It Rains It Pours (vocal slapback tape, takes 3-4) 2:14
39 When It Rains It Pours (vocal slapback tape, take 5/M) 2:02
40 When It Rains It Pours (vocal slapback tape, take 6-7) 1:40
41 When It Rains It Pours [vocal slapback tape, take 8] 1:40*
Disc 3: Live & Radio Performances

01 That’s All Right 2:52
02 Blue Moon of Kentucky 2:23
03 Shake, Rattle and Roll 2:24
04 Fool, Fool, Fool 1:59
05 Hearts of Stone 2:02
06 That’s All Right 1:52
07 Tweedlee Dee 2:51
08 Shake, Rattle and Roll 2:23*
09 KSIJ Radio commercial with DJ Tom Perryman 0:16*
10 Money Honey 2:43
11 Blue Moon of Kentucky 2:04
12 I Don’t Care if the Sun Don’t Shine 2:33
13 That’s All Right 1:54
14 Tweedlee Dee 2:15 *
15 Money Honey 2:17*
16 Hearts of Stone 1:37*
17 Shake, Rattle and Roll 1:39*
18 Little Mama 2:03*
19 You’re a Heartbreaker 2:06*
20 Good Rockin’ Tonight 2:36
21 Baby Let’s Play House 2:22
22 Blue Moon of Kentucky 1:47
23 I Got a Woman 3:03
24 That’s All Right 2:17
25 Tweedlee Dee 2:47
26 Interview with Mae Boren Axton 3:19
27 That’s All Right 2:37*
28 I’m Left, You’re Right, She’s Gone 3:16
29 Baby Let’s Play House 3:19
30 Maybellene 3:09
31 That’s All Right 2:49
32 Interview with Bob Neal 5:31

Faixas marcadas com * denotam material inédito.
Algumas páginas do livro A Boy From Tupelo.
A Boy From Tupelo - Por Sergio Biston

Nas primeiras horas daquela manhã extremamente quente e ensolarada, me apoiava numa cadeira surrada de couro em frente à uma mesa de madeira. Tudo era muito simples, parco, até melancólico. Na mesa havia um ventilador, um telefone, e uma máquina de escrever. Olhei paro o lado, em direção a uma porta de ferro e vidro. A luz do sol passava pelas frestas das persianas e eu imaginei aquele jovem pobre e cheio de sonhos entrando e cumprimentando a mulher que um dia sentou-se naquela mesa. Imaginei que mais algumas pessoas estivessem sentadas esperando sua vez, provavelmente esbaforidas pelo calor daquele verão de 53. Tentei dimensionar o tamanho de um sonho, de uma vontade de fazer algo que parece estar infinitamente distante.
Pensei em como um gesto tão simples, como criar coragem para abrir uma porta, pode alterar a vida de forma tão radical e me perguntei se Elvis, anos mais tarde, lembrou-se desse dia e vendo tudo o que o cercava, se assustou.
Esse dia era 09 de Agosto de 2007, a primeira vez que visitei a SUN Records, e a minha imaginação fugiu para algum dia de Julho de 1953, quando ele entrou naquele mesmo lugar para ouvir como sua voz ficava num disco. Pagou $ 3.98 por isso e mudou a sua vida e a de milhões no mundo todo de cabeça para baixo. Mudou a minha vida, a sua, e a de um cara chamado Ernst Jorgensen.
Desde que assumiu o posto oficial de produtor e pesquisador de Elvis pela gravadora BMG no início da década de 90, Ernst viajou milhares de quilômetros e vasculhou em áticos empoeirados, vendas de garagem, arquivos esquecidos de escolas, jornais e ginásios, todo e qualquer fragmento que pudesse recontar e reconstruir tudo o que veio antes, durante e  nos 29 meses depois daquele verão. Ao longo do caminho encontrou raridades, lembranças perdidas de quem viveu aqueles dias, guardadas numa carteira ou num canto esquecido da memória e juntou tudo num projeto histórico cujo nome não poderia ter sido melhor escolhido: Um Garoto De Tupelo.
Ha uma certa melancolia quando se olha para a capa do livro, o documento definitivo dessa época, posso já afirmar nesses parágrafos iniciais. Um garoto jovem, de olhar esperançoso e ingênuo totalmente dispido das luzes e do brilho que cercariam toda a sua vida, depois que abriu aquela porta. Esse é o Elvis de botecos empoeirados, de shows em estacionamentos e quadras de esporte escolares. De noites em claro dentro de um cadillac surrado, com os instrumentos pendurados no teto, cruzando as estradas de chão dos confins norte-americanos.
Nas 500 páginas do livro Jorgensen constrói um inacreditável e meticuloso relato diário da trajetória de Elvis na Sun Records, através de inúmeras fotos, recortes de jornais e documentos que contam como a maior revolução da história da música moderna aconteceu. Um trabalho que levou mais de seis anos para sua conclusão e consumiu mais de 1700 horas de trabalho em estúdio. Praticamente cada dia entre Julho de 1954 e Dezembro de 1955 está representado por pelo menos uma foto, um artigo de jornal ou um testemunho.
As fotos, das quais mais de 200 são inéditas, mostram um garoto as vezes tímido e retraído longe do palco e totalmente a vontade e confiante em cima dele. Outras retratam locais ledários e fascinantes da sua história, como o Eagle´s Nest em Memphis e o Louisiana Hayride. Lugares impensáveis como o estacionamento de uma revenda de carros e a quadra de basquete de uma escola também estão documentadas em foto.
O trabalho de investigação revelou por vezes até a cor das roupas usadas por Elvis, algo que as fotos em preto e branco não podem dizer.
Depoimentos de DJ´s locais, donos de bar, músicos, promotores de evento e testemunhas dos concertos completam a pesquisa e levam o leitor à uma viagem fascinante à gênesis de Elvis.
Ha também um tocante telegrama de Elvis à seus pais, despachado de Houston: "Olá bebês. Estou mandando dinheiro para pagar as contas. Não conte a ninguém o quanto mandei. Mando mais na próxima semana. Tem um cartão postal à caminho. Amor, Elvis."