BKL-75 - Por Jean Fabrício *
Em
outubro de 1956 o mundo estava atento a duas crises: O Exército Vermelho invadia
a Hungria para reprimir a revolução contra a União Soviética, e o Egito era
bombardeado pela coalizão França-Inglaterra para a liberação do Canal de Suez.
Nesse mesmo ano era criado o grupo “The Black Jacks”, que mudou para
“Quarrymen”, que mudou para “The Rainbows”, que mudou para “Johnny and The
Moondogs”, que mudou para “Long John and the Silver Beatles”, que mudou para
“The Silver Beatles” que finalmente mudou para “The Beatles”...
E um
dia após o nascimento da futura campeã de tênis Martina Navratilova, era lançado
nos Estados Unidos em 19/10/1956 o segundo LP de Elvis Presley. Simplesmente
denominado “Elvis” (LPM 1382), trazia gravações de setembro de 1956, exceto uma,
que era de janeiro daquele ano. Era um LP 100% RCA – as canções gravadas na SUN
ficaram “definitivamente” para trás, pelo menos por
enquanto.
No
Brasil, ao contrário do que aconteceu com o primeiro LP, a nossa RCA manteve em
quase 100% o padrão americano da lista de músicas e confecção da
capa.
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Capa do
LP Americano
Capa do LP Brasileiro
Começando pela capa, devemos levar em consideração a qualidade dos equipamentos e técnicas de impressão. A versão americana tem maior definição de cor e brilho, com impressão mais nítida do que a capa nacional (diferença essa presente enquanto havia LP à venda, até nos anos 1990). O selo superior direito é diferente nas versões. Na americana há a inscrição LPM-1382, com o fundo vazado. Já na capa nacional a logo é em azul e preto, trazendo a codificação da RCA brasileira para o LP (BKL-75) e abaixo do código a inscrição “Música Popular”.
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Diferença
entre o selo americano (em cima) e o nacional (em
baixo)
A contra-capa, como de hábito naquela época, trazia um texto sobre o artista e as músicas apresentadas no LP. Aqui também há diferença entre a capa americana e a nacional. Por sorte a RCA brasileira optou em não fazer propagandas de outros artistas, deixando apenas o texto (reproduzido ao final dessa página). Mas nem sempre o que parece 100% acerto é: perdemos a bela reprodução em cores do Nipper ouvindo uma Victor Talk Machine...
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Contra-capa
do LP Americano
Contra-capa do LP Brasileiro
Passando ao LP, a seleção de músicas é idêntica do original americano. A diferença está no selo. O americano é preto com texto em cinza-prata e a logo do Nipper em tamanho grande e em cores. Já o selo nacional é azul com texto em cinza-prata, com o logo Nipper pequeno, também em cinza-prata. Veja abaixo a comparação entre os selos:
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ELVIS
(US) RCA LPM 1382
(BR) RCA BKL-75
Lançamento
US: 19/10/1956
Lançamento BR: desconhecido, possivelmente algumas semanas após o lançamento americano, ainda em 1956.
Rip
It Up ****
Love Me **
When My Blue Moon Turns To Gold
Again ***
Long Tall Sally ***
First In Line ****
Paralyzed ***
So
Glad You're Mine *
Old Shep ***
Ready Teddy ****
Anyplace Is Paradise ***
How's The World Treating You
**
How Do You Think I Feel **
*
Gravação: RCA Studios, New York City, 30/01/1956
** Gravação: Radio
Recorders, Hollywood, 01/09/1956
*** Gravação: Radio Recorders,
Hollywood, 02/09/1956
**** Gravação: Radio Recorders, Hollywood,
03/09/1956
Abaixo a transcrição completa do texto da contra-capa:
<Fazia
uma noite fria e chuvosa na Broadway. Época: janeiro de 1956. Local: auditório
de uma TV, entre as ruas 53 e 54. Acontecimento: a estréia, na televisão, de um
cantor novo, um jovem de invulgar talento e relativamente
tímido.
Conquanto
essa estréia se devesse a uma espetacular fama, a publicidade a seu respeito não
chegou a atrair o grande público. Artista que havia empolgado assistências no
Sul de seu país, Presley via-se naquele momento enfrentando uma platéia na maior
parte tão fria e indiferente quanto o povo da Sibéria.
Em
Nova York poucos foram os que se deixaram levar pela propaganda. O auditório
apresentava alguns militares e civis, que ali haviam comparecido mais em busca
de abrigo contra o frio. Lá fora, turmas de brotos passavam indiferentes sob a
marquise em direção de um rinque de patinação nas proximidades. Pouco antes do
programa, um de seus promotores retornava à bilheteria, com ar desconsolado,
para devolver dezenas de ingressos que não conseguira passar de graça nas ruas
de Times Square.
O que
sucedeu aquela noite e nos dias seguintes, faz hoje parte da história. A atenção
de todo o país se concentrava em Presley. No sul, isso não constituía novidade,
e sua população se regozijava ante o êxito de seu prodígio de 21 anos. Êxito que
de início se fez acompanhar de espanto, depois de controvérsia. Desejava-se
saber o “porque” da contagiante popularidade de Elvis Presley. Muitos têm
confundido a mesma com problemas sociais, reais porém destituídos de significado
quando utilizados na crítica musical. Como resultado, a maioria das ácidas uvas
analíticas logo se tornou inofensivo vinagre, ou antes, foi adocicada pela
“descoberta”, em tempo, do grande talento de Presley por parte dos
críticos.
A
resposta do sucesso de Elvis Presley reside algures no redemoinho de sentimentos
e tendências, tão bem focalizados no poderoso estilo do
cantor.
***
No
tocante a música popular, talvez seja Presley o cantor mais original desde Jimmie Rodgers. Seu estílo rítmico
deriva de exatamente a mesma fonte do blues e do jazz, a fonte que inspirou ao
falecido Blue Yodeler, como era conhecido Jimmie. E por uma coincidência, sua
terras natais no Mississipi se acham separadas por menos de 16
quilômetros.
Alguns
alegam que é uma reação à confusão atual que leva os compositores de números
rítmicos e de blues a simplificar suas músicas com repetidos tons e forte
marcação – em outras palavras, a criar rock-and-roll. O estilo interpretativo de
Presley acarreta reação extraordinàriamente sensacional entre os adolescentes.
Importante em Elvis é o seu entusiasmo pelas músicas dos Blackwood Brothers, dos Statesmen e outros
quartetos do Sul que cultivam a música evangélica. Jamais houve grande diferença
entre canções rítmicas e canções evangélicas, exceto, naturalmente, no tocante
ao teor dos versos. São essencialmente, o fervor, a animação e o
ilimitado espírito do canto evangélico que Presley admira, os quais foram
absorvidos em suas dinâmicas atuações.
Podemos
melhor compreender isto se consideramos a freqüência de números populares que
são “revividos” por êle. Aqui, Presley homenageia tanto cantores de baladas como
rítmicos, tais como Billy
Daniels e Bill Kenney
– o que nos leva à possível resposta para a sua incrível popularidade: Elvis
Presley, ao combinar os quatro setores (regional, evangélico, rítmico e popular)
numa perfeita unidade, torna-se único nos anais da música. Neste ponto, devemos
deixar de lado as influências e ver Presley em si, ou melhor ainda – deixar tudo
de lado e ouvir exclusivamente a sua música.
***
Nota
especial merece o acompanhamento de piano em Old Shep, a primeira seleção
que Elvis gravou em sua vida – assim como faz juz a elogios o estupendo fundo
vocal dos Jordanaires. Em suma, cremos que a presente coletânea jamais teve
rival no que tange à variedade, e concorrerá, certamente, para que aumente ainda
mais o público de Elvis Presley.
E.B.
* Jean Fabrício Gomes é colecionador de Lps de Elvis e nosso colaborador para a seção discografia nacional.
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