O Ano de 76 estava apenas começando para Elvis Presley. Mas  a luz de alerta já havia acendido no final de 1974, quando o abuso de medicamentos começou a interferir em suas performances e principalmente em sua saúde. Naqueles complicados meses finais, Elvis havia entrado em uma gangorra mortal com relação a sua saúde.

Apesar das complicações, o ano seguinte havia  sido um ano fantástico para Presley e após uma breve internação no Baptista Hospital, iniciou uma temporada de sucesso em Março de 1975, com críticas bastante positivas.

George F. Will, do Washington Post escreveu:

“Mesmo coberto por trajes reais, banhado pelas luzes vermelhas e azuis, acompanhado de flautas e violinos, sua energia animal se sobressai até mesmo perante o refinamento de Vegas...”

Finda a primeira temporada do ano, Presley partiu para a estrada, onde continuava batendo recordes de público e crítica. Em Memphis, fez mais um show espetacular, abarrotando o Mid South Coliseum que abraçava calorosamente seu residente mais ilustre.

Seus discos alcançavam boas colocações nas paradas de sucesso, com o single Promised Land, entrando para o top 20 na 14º posição e My Boy, na 20º posição. Nas paradas Country, Presley se saia ainda melhor, com T-R-O-U-B-L-E  ocupando a 11ª posição.

Problemas surgiram no meio do ano, com uma temporada cancelada em Las Vegas, mas quatro meses de descanso fizeram Elvis voltar revigorado para uma temporada especial no mês de Dezembro, culminando num apoteótico show de ano novo para 60,000 pessoas – seu maior público e recorde absoluto na época- em Pontiac, Michigan.

Com um ano tão positivo encerrado, era de se imaginar que Elvis estava colocando sua vida de volta nos eixos. Infelizmente 1976 seria o ano onde sua saúde descarrilou de vez. 

O ano começou positivamente, com a curta turnê de Março apresentando ótimos shows em Johnson City, Cincinnatti, e Saint Louis.

É justamente um dos shows dessa turnê que a King Records nos traz em soundboard. Gravado em Charlotte, NC, é possivelmente o mais fraco dos 8 shows. O tape está incompleto, começando no final de “Amen”. Elvis soa bastante cansado e sua voz não tem a vitalidade costumeira e nem aquela força sempre tão presente e encantadora. Esse cansaço é sentido principalmente em canções mais “agressivas” como Steamroller Blues, onde nota-se claramente um esforço maior por parte de Elvis em atingir os agudos.

Mesmo, assim, Elvis consegue fazer boas performances nesta noite. A primeira delas é You Gave Me a Moutain. Cantada com muito sentimento e incluindo alguns malabarismos vocais, cada vez mais refletia os problemas pessoais pelos quais o cantor passava...

Polk Salad Annie é possivelmente a melhor da noite, com a banda brilhando intensamente no acompanhamento. Destaque especial para o baixo de Jerry Scheff no segundo “break” antes do final. Larry Londin faz jus ao lugar de Ronnie Tutt, ausente por problemas pessoais.

O show traz também algumas surpresas, como Heartbreak Hotel e How Great Thou Art. A primeira é acima da média para os padrões “50´s revival” estabelecidos por Elvis nos últimos anos, enquanto How Great Thou Art é afetada pelo cansaço em sua voz. Mesmo assim, a canção sacra é interpretada de maneira valorosa, garantindo uma boa performance.

Hurt, sua mais recente gravação, é bem cantada.Elvis dedica-se a sua performance, embora ela ainda esteja relativamente crua e talvez por isso, Elvis não atinja a nota aguda no final ( uma constante nesta curta turnê, mas que iria mudar nos shows vindouros), preferindo adorna-la com um bonito falsetto.

America, The Beautiful, , a maneira que Elvis encontrou de homenagear o bicentenário americano, seria usada na maior parte do ano e demonstra outro esforço valoroso de Presley, que faz aqui uma excelente versão desse ícone patriótico musical.

Já Burning Love -o clássico “TOP 3” de 1972- faz uma de suas últimas aparições, nessa boa versão em que Elvis não se enrosca na letra, respeitando mais o tempo original da mesma.

Seu mais recente álbum, TODAY ( 1975), é representado por duas boas canções: And I Love You So e Farytale. A balada romântica está ótima como sempre e Fairytale é agradável, apesar do erro dos músicos que encerram a canção antes do ultimo verso.

Evidentemente cansado, Presley termina com uma versão aceitável de Cant Help Falling In Love, a clássica canção de “Blue Hawaii”

Longe de se tornar um espetáculo inesquecível, como muitos outros disponíveis aos colecionadores, esta noite em Charlotte figura entre os shows medianos da década de 70 e apesar do cansaço evidente em algumas faixas, Elvis consegue fazer um show agradável para o ouvinte, e certamente uma noite inesquecível para os fãs presentes.

O show seguinte em Saint Louis encerraria a turnê, e em pouco mais de um mês, Elvis estaria de volta à estrada.  No campo artístico, 1976 ainda reservaria boas surpresas a Elvis, com Hurt e Moody Blue chegando ao 6º e 1º lugar nas paradas country da Bilboard, respectivamente, e o álbum From Elvis Presley Boulevard lhe rendendo mais um disco de ouro. Mas seria um ano cruel para sua saúde. Correndo as cidades norte americanas com seu show, Elvis faria espantosos 128 concertos, estando na estrada por 94 dias. Some a isso 13 apresentações em Tahoe e 15 em Vegas, e o total sobe para 156 apresentações. Obviamente, essa rotina estafante cobraria seu preço e entre as turnês de Junho e Agosto, Elvis atingiria seu pior momento. Seu peso se descontrolava, os remédios interferiam em suas performances e sua depressão atingia níveis críticos. As coisas melhorariam  a partir de Setembro, com uma turnê sólida e atingiriam seu ápice em Dezembro, com um Elvis revitalizado, em excelente forma física, mental e vocal. O último show do ano, em Pittsburgh, transformar-se-ia em um de seus melhores de todos os tempos. 1977 abria as portas para Elvis de maneira brilhante, e o futuro, pelo menos naquele momento, prometia muito.

Infelizmente, 1977 traria a mesma gangorra perigosa de 76, culminando com o trágico acontecimento em Agosto.