Night Fever In Vegas- Por Sergio Luiz

Recentemente, procurando algo “diferente” para ouvir, desenterrei da coleção um dos meus primeiros bootlegs: Night Fever In Vegas. Lembro-me como hoje da emoção de ouvir aquele show totalmente desconhecido, numa época em que a internet abria suas portas para mim, apresentando-me este vasto e inexplorado mundo dos “piratas”.

Na época, a temporada de Agosto de 1974 tornara-se uma favorita minha, por suas características tão incomuns. Não é surpresa portanto, que Night Fever in Vegas tivesse um lugar importante na minha coleção, motivando- me até a escrever uma das minhas primeiras reviews num site norueguês.

Nesses 10 anos passados de seu lançamento, Night Fever In Vegas sofreu uma concorrência acirrada, com lançamentos do quilate de  Hot Winter Night In Dallas, Burning In Birmingham, Goodbye Memphis e mais recentemente títulos como Taking Tahoe Tonight,  Dixieland Rocks, Tucson e o próprio Its Midnight da FTD. CDs consagrados por oferecerem shows de alta qualidade e material incomum ou inédito.

Muito por isso, Night Fever In Vegas tornou-se um título relativamente esquecido, pouco mencionado entre os fãs e colecionadores. Injustamente, diga-se de passagem, pois este lançamento do saudoso selo “Rock Legends” traz um bom show, com algumas performances espetaculares e um Elvis ainda em boa forma física, embora os primeiros sinais da alucinante queda que se daria entre os meses finais deste ano, dessem seus primeiros sinais em forma de longos monólogos com a platéia.

Night Fever faz parte de um capítulo à parte da história de Elvis, documentado perfeitamente pelos famosos “From Sunset Boulevard To Paradise Road”, “Its Midnight!” e pelo polêmico “Desert Storm”. Um momento transitório na vida e carreira de Elvis, que lutava contra a depressão, o tédio e a rotina de suas apresentações em Vegas.

“Night Fever in Vegas” documenta os dias finais desta batalha, na qual Elvis ostenta seu título de campeão, mas ao invés de se portar como um, apenas comemora sobre seus espólios.

Elvis, em finais de 1974

O show é uma espécie de “meio da estrada”, com parte do novo repertório e parte do antigo e  desnecessário dizer, Presley apresenta muito mais entusiasmo nas novas canções. É fácil perceber seu renascimento em números como Its Midnight, carro chefe da nova temporada, ou em Softly, As I Leave You, onde a simbiose entre Elvis e Sherril é perfeita.

Curiosamente, seu desânimo com as canções mais antigas  acaba por trazer novos ares à Suspicious Minds, que ganha aqui um novo verso, “won't you let you love survive, oh Lord get you hate out of you god damn mind, I don't wanna let a good thing die, cause you know honey I have never done a thing to you”, conferindo à canção um tom ainda mais rancoroso.

O show tem seus momentos curiosos também. Antes de American Trilogy uma fã mais extasiada grita: “I Love You Elvis”. Enquanto Elvis responde a garota, alguém da platéia grita  “I Hate You Elvis” e é prontamente respondido com um sonoro “FUCK YOU”. Passado o choque inicial, a platéia desaba em aplausos e risos.

Sobrevivente do novo repertório, If You Talk In Your Sleep demonstra ser um de seus melhores números no palco, contando com um habilidoso acompanhamento dos pratos e caixas de Ronnie Tutt e incríveis demonstrações de Karatê. A versão deste show não é diferente, embora sua voz esteja levemente afônica neste número em particular.

Seguindo a veia de boas performances Elvis emenda Help Me e uma selvagem versão de Let Me Be There. Alguns cínicos podem achar que Presley grita, ao invés de cantar em Let Me Be There e à eles dou a mesma resposta malcriada de Elvis. Let Me Be There é Rock n Roll. Puro e sem gelo.

E somente Elvis Presley pode colocar uma canção tão suja quanto If You Talk In Your Sleep junto ao clássico sacro How Great Thou Art e ainda sair ileso. Sua versão da ganhadora do Grammy por melhor versão ao vivo na metade do ano é excelente, mas não lhe daria o Grammy desta vez, embora Elvis entregue sua alma e coração nesta versão.

O mesmo não pode ser dito de You Gave Me A Mountain, que se não é digna do Grammy é sem dúvida nenhuma uma das melhores versões, se não a melhor. Elvis exterioriza toda suas angústias, seus medos e sua raiva, em um recado explícito à Prisicilla.

Diante disso, Cant Help Falling In Love soa quase como uma gota d´agua num mar bravio, um suspiro baixinho do sentimento contido e escondido.

E então tudo termina, as cortinas descem e as luzes se apagam. Elvis volta a sua suíte, amanhã seria um novo dia. Novas batalhas, novas vitórias, novas derrotas.

Vegas, Agosto de 1974

Som:  4/5

Show: 3.8/5