Marty Lacker é um dos membros originais da
famosa Máfia de Memphis, o círculo de amigos íntimos e empregados que
viveram com o rei e partilharam seus altos e baixos. Marty trabalhou
como secretário pessoal de Elvis de 1961 até 1967 e foi também padrinho de
seu casamento com Priscilla. Marty tornou-se um dos líderes da Memphis Music
Industry . Ele continuou amigo de Elvis e permaneceu próximo a ele quase todos
os dias até finais de 1976. Ele também esteve presente em muitas turnês,
temporadas em Vegas e também no famoso especial Aloha From Hawaii. Marty
trabalhou em uma série de projetos a permaneceu no circulo de amizades do cantor
até 1977.
Elvis
Collectors Brasil: Você conheceu Elvis no último ano do colegial, então
você estava presente quando as coisas começaram a acontecer para Elvis. O que
você lembra dessa época?
Marty Lacker: Ele estava muito feliz com o que estava acontecendo com ele e com as oportunidades de uma vida mais confortável para seus pais, especialmente sua mãe.
ECB:
Quando Elvis lançou seu primeiro sucesso, você foi para o exército. Quando você
voltou, foi até a nova casa de Elvis,Graceland, e lhe foi oferecido um trabalho.
Qual era esse trabalho? Quais eram suas funções no grupo?
ML:Quando
voltei do exército em 1957 ele havia acabado de se mudar para Graceland e
comecei a me enturmar com ele e os outros caras que estavam lá. No ano seguinte
ele foi para o exército e eu me tornei diretor de programação no
rádio.
Quando
ele voltou em 1960 eu voltei a me encontrar com eles e ele logo me chamou para
trabalhar com ele. Tornei-me uma espécie de secretário particular. Naquela época
Joe Esposito, o qual Elvis havia conhecido na Alemanha no ano anterior, era o
seu secretário. Quando Joe e Elvis tiveram um desentendimento eu me tornei a
desempenhar essa função.
Meu trabalho era fazer com que os caras fizessem tudo o que era necessário para facilitar a vida de Elvis e assegurar que ele pudesse fazer seu trabalho. Também servia como intermediário entre Elvis e o Coronel e com os estúdios de filmagem. Entretanto, eu era inteligente o suficiente, ao contrário de Joe, para saber que não era mais importante ou próximo de Elvis do que os outros membros do grupo. Eu fui e ainda sou seguro em saber que era um amigo próximo, como um irmão, para Elvis, como todos eram.
The Memphis Mafia. Marty Lacker is at the far right
ECB:
Como era viver próximo a uma pessoa tão famosa? O que Elvis pensava sobre tudo o
que estava acontecendo em sua vida, naquele momento?
ML: Elvis era grato por tudo o que a vida lhe ofereceu, mas nunca as tomou como algo garantido. Era divertido e interessante a maior parte do tempo, mas como qualquer outro ser humano, tínhamos nossas falhas, fragilidades humanas e problemas.
ECB:
Depois que sua carreira musical finalmente decolou e ele tornou-se um sucesso
mundial, o exército veio e o levou por dois anos. Essa decisão de seu empresário
é vista por muitas como ilógica e é tema de discussões há muitos anos. O que
você acha dessa decisão e o que Elvis comentou sobre seus medos de que sua
popularidade fosse acabar com essa ausência na mídia?
ML:Elvis não gostou de ir para o exército, embora ele fosse muito patriótico. É fácil entender o porquê ele sentia essa recusa. Ali estava ele, curtindo sua vida de superastro e de repente eles iam tirar isso dele por um tempo. Ele temia que enquanto estivesse fora, as pessoas iam esquecer dele e colocar outro em seu lugar. Ele obviamente não podia reclamar em público porque isso ia repercutir negativamente então ele aceitou os planos do Coronel. Felizmente, uma das poucas coisas boas que Parker fez foi lançar discos enquanto Elvis estava no exército para mantê-lo em evidencia na consciência do publico. O fato de ele ter servido o seu país tornou-se um fator positivo com os fãs. Ele ficou extremamente feliz quando tudo acabou e ele voltou para casa.
ECB:
Após sua saída do exército, as expectativas para seu retorno eram enormes. A RCA
lançou um álbum fantástico marcando seu retorno e o futuro prometia muito.
Entretanto, ele logo foi chamado por Hollywood e começou a filmar G.I.Blues.
Deu-se início a uma série de filmes e após alguns papéis sérios como
ML:Elvis
se cansou dos filmes porque eles se tornaram nada mais do que aventuras
musicais. Ele se cansou de cantar nos filmes queria muito se tornar um ator
dramático. Entretanto o Coronel estava interessado apenas no dinheiro e porque
Elvis ganhava bem, Parker o manteve neste mesmo tipo de filme. Sim, era
responsabilidade de Elvis dizer “Chega”, o que ele finalmente fez em 1968.
Quando Parker fez o acerto com o especial de 1968, ele conseguiu fazer com que Elvis aceitasse fazer mais um último filme. O trato de Parker era: Sem filme, sem especial.
ECB: Você não acha irônico que este último filme tenha sido o tipo de papel que ele sempre procurou? O que ele achou de Change Of Habit? Embora não fosse um filme digno de oscar, deu ele a chance de atuar em um papel sério
ML:Ele achou OK. Mas o script era fraco e tudo o que ele queria ere se livrar dos contratos e voltar a cantar ao vivo.
ECB:
Durante esse período de sua vida, Elvis parece ter perdido o controle de sua
carreira, cegamente confiando em seu empresário. Porque você acha que Elvis era
tão leal ao Coronel, mesmo quando era claro que ele não estava tomando as
melhores decisões?
ML:Porque Parker instilou nele uma espécie de controle e temor de que se ele não seguisse o que Parker queria, sua carreira poderia acabar.
ECB:
Durante a execução destes filmes, a única coisa que parecia motiva Elvis eram
suas atrizes coadjuvantes. Seus envolvimentos românticos certamente devem ter
levado a muitos problemas com Priscilla. Como ele fazia para escapar das
confrontações dela sobre esses “affairs”, especialmente com Ann Margret?
ML:Ele teve um confronto com Priscilla sobre Ann Margret, mas ameaçou manda-la de volta aos seus pais então ela se calou. Ele disse a ela que era apenas publicidade para Viva Las Vegas, mas não era verdade. Elvis e Ann se gostavam muito. Muitos de nós preferíamos que ele tivesse ficado com ela, ao invés de Priscilla.
ECB:
Você acha que ele se arrependeu de te-la trazido para morar em sua casa e de
certa forma ter assumido um compromisso com ela?
ML:
Eventualmente ele se arrependeu mas ele se importava com ela, assim como se
importava com as suas namoradas.
Ele se casou porque foi forçado pelo pai dela. Isso veio direto da boca de Elvis no dia que ele me convidou para ser seu padrinho.
Elvis casa-se com Priscilla: Marty Lacker é o padrinho na extrema direita.
ML: Fui eu quem obteve essa câmera diretamente da Sony, na Califórnia, enquanto ele filmava “Tickle Me” . Sim ele fez esses vídeos e o que você pergunta acima é tudo verdade.
ECB: Durante esse período de grande
stress, em que sua carreira estava decaindo, seus filmes e canções se tornavam
cada vez piores e os lucros começaram a cair, ele se envolveu com estudos
espirituais. Por favor, conte-nos sobre esse período de sua vida, o que o levou
a esses estudos e se isso trouxe algum beneficio para Elvis.
ML:Ele
começou com esses estudos por causa da influência de Larry Geller, seu
cabeleleiro da Califórnia. Larry faz/fazia parte de um culto californiano e
começou a ter conversas com Elvis e a trazer livros sobre o assunto, para
preocupação de muitos de nós. Estava mexendo com a cabeça de Elvis e ele sabia
que não gostávamos. Elvis logo se cansou e começou a perceber quais eram as
intenções de Larry. Larry é um cara bacana mas não devia ter tentado levar Elvis
naquela direção. Essa é a minha opinião e da maioria dos caras que cresceu com
Elvis.
ECB: Você acredita que Elvis teve seu
coração partido pelo divórcio de Priscilla ou seria uma questão de “ego
partido”?
ML:
Ego partido e não coração partido como muitos fãs pensam. Especialmente porque
ela o deixou por outra pessoa.
ECB: Após esse período ruim da sua
carreira, Elvis deu a volta por cima e se tornou uma força respeitada novamente
no campo musical com seu especial para a NBC e em seguida as sessões de gravação
ML:Sim, ele queria fazer uma turnê mundial. Cansou-se de cantar nas mesmas cidades nas turnês e a culpa disso cai inteiramente no Coronel. Elvis disse uma vez que teria que tocar para sempre em Vegas para pagar as dívidas de jogo do Coronel.
ECB: Esse cansaço e falta de desafios
levou Elvis a um abuso de pílulas que parece ter saído de controle após a
segunda temporada
ML:Elvis
nunca usou heroína. Ele usava pílulas e uma vez experimentou cocaína, mas foi
só. Ele estava furioso porque a imprensa estava descobrindo seu vício
Elvis fazendo uma desmonstração de Karate no palco do Hilton. Augosto/Setembro de 1974
ECB: Algo de muito errado aconteceu
com ele na turnê seguinte, em Setembro/ Outubro de 1974. Ele parecia estar fora
de controle, incoerente, com a fala arrastada e a voz afetada. O que aconteceu
com ele nessas poucas semanas entre uma boa temporada em Vegas e o início de uma
desastrosa turnê, na qual se apresentou algumas vezes tão debilitado física e
emocionalmente. Seria isso resultante de um abuso de estimulantes?
ML:
Ele tomou mais do que estimulantes naquela época. Ele tomou analgésicos e
pílulas para dormir. Esse tipo de coisa faz você arrastar as palavras porque
você não se livra dos efeitos a tempo. Eu falo por experiência própria porque eu
também as tomei.
ECB: Também foi nessa época que ele
apareceu como uma ferida na mão, a qual cobria com bandagens. Ele disse em
alguns shows que uma fã mais exaltada o arranhou e o feriu na mão e que na noite
seguinte, outra fã o arranhou novamente no mesmo local, causando uma infecção.
Isso é verdade ou ele estava tentando esconder alguma coisa?
ML:Era verdade.
Elvis no palco em Outubro de 1974. Note o curativo em sua mão direita
ECB: Muitos fãs culpam seu médico, Dr.
Nick como o responsável por seu vício
ML: O Dr. Nick acabou
envolvido num estilo de vida que não devia. Ele devia ter continuado a exercer
sua profissão. Ele é basicamente uma boa pessoa.
ECB: Após esse período conturbado, ele
foi hospitalizado para fazer uma desintoxicação. Ele voltou muito melhor e com
renovado interesse pela música, o que resultou no álbum Today. Entretanto, o que
parecia ser um bom ano (1975) terminou de maneira negativa quando o Coronel
matou os planos de Elvis em estrelar no drama A Star Is Born. Porque o Coronel
recusou a oferta e como isso afetou Elvis?
ML:Mais uma vez o
controle de medo imposto pelo Coronel foi o responsável. Ele não gostou do fato
de Barbra Streisand ter passado por cima dele e ter ido direto a Elvis com a
proposta. Ele também tinha medo que Streisand, que é esperta, mostraria algumas
coisas a Elvis com relação às negociações do showbizz , que poderiam levar Elvis
a questioná-lo sobre suas decisões. Elvis queria fazer o filme, mas novamente
cedeu à pressão de Parker.
ECB: Falando sobre o Coronel, que
parece ser a causa de muito de seus problemas, quais são suas opiniões sobre ele
como pessoa e empresário? Você acredita que Elvis deveria ter se livrado dele,
digamos, depois do Aloha From Hawaii?
ML:O
Coronel foi bom para Elvis nos primeiros anos mas foi ficando pior porque ele
não queria ou não foi capaz de mudar com o tempo. Na minha opinião, ele tratava
Elvis como um de seus shows circences.
Parker
era um circense trapaceiro, e eles são do firme propósito de coletar a grana e
correr. Se a carreira de Elvis tivesse ido por água a baixo, onde ele não
ganhasse muito dinheiro, Parker teria o descartado. Felizmente Elvis exercia
grande fascínio em milhões de pessoas ao redor do mundo e por causa deste
carisma e magnetismo, os fãs não o deixavam não importando o que ele
fizesse.
ECB: Ele demitiu Parker em Setembro de
1973, após o show de encerramento, Você se lembra dessa discussão e porque Elvis
voltou atrás em sua decisão?
ML:Elvis
se enfureceu e disse algumas coisas pesadas contra os executivos do Hilton
(Nota: confira o FTD Closing Night), incluindo Baron Hilton (Nota 2: presidente
e proprietário do Hotel) no palco do Hotel e Parker voltou e começou a gritar
com Elvis. Elvis não estava de bom humor para o tom de voz de Parker e disse a
ele que se ele não gostava, ele estava demitido. Eles ficaram indo e vindo com
ameaças do tipo: “Você está demitido“ “Não, eu me demito”. Elvis mandou Parker
cair fora.
No
dia seguinte Parker apresentou a Vernon Presley uma conta de dois milhões de
dólares por despesas anteriores, etc.
Isso
assustou Vernon porque ele sempre temia que Elvis fosse a falência. Ele disse a
Elvis que ele devia se entender com o Coronel e infelizmente, mais uma vez,
Elvis cedeu. Para falar a verdade, Parker provavelmente devia isso e muito mais
a Elvis.
ECB: Com o Coronel tentando exercer um
controle tão forte na vida e carreira de Elvis, ele nunca o confrontou sobre seu
abuso de remédios?
ML:Não,
com uma única exceção em Vegas, quando Elvis estava muito mal e estavam tentando
faze-lo ficar coerente 15 minutos antes do show. Parker se enfureceu quando
entrou no quarto e disse a eles que não importava o que tinha que ser feito e
que eles deveriam deixar Elvis pronto para fazer o show porque ele não iria
falar aos dirigentes do Hotel para cancelar o show ou que o show seria cancelado
para a platéia. Isso mostra que ele estava apenas interessado no dinheiro e não
no bem estar de Elvis. Depois que Elvis morreu, ele disse que não sabia dessas
coisas, mas era mentira.
ECB: A última vez que você viu Elvis,
foi em Julho de 1976. O que você falou com ele e qual foi a impressão que ele
lhe deixou?
ML:Ele
estava de mau humor e não falou muito com ninguém, apenas fez o show em Memphis
e foi pra casa. Quando voltei a Graceland depois do show, ele já tinha ido
dormir e o restante do pessoal tinha ido para casa.
ECB: A última conversa que você teve
com ele foi em Julho de 1977, você se lembra de algum assunto interessante que
surgiu nessa conversa?
ML:Eu
estava morando na Califórnia já naquela época, e apenas perguntamos um ao outro
como estávamos. Eu já tinha ouvido de outros caras que ele tinha se afastado de
todos, menos de Billy Smith. Billy me disse que basicamente, ele só via os
outros caras quando estava em turnê
ECB: Com tantas coisas escritas sobre
seus últimos dois anos, temos a impressão de que Elvis estava acabado, afundado
em drogas e apenas esperando sua morte. Entretanto você deu uma entrevista para
a Elvis Information Network e disse que “Na maioria das vezes ele estava bem”
Além disso, recentemente tivemos acesso a várias fotos dele andando de moto em
Memphis e no geral, aproveitando os bons momentos. Você acredita que a mídia e
alguns biógrafos tendem a exagerar sua condição, mesmo que ele realmente tivesse
problemas com os medicamentos e sua saúde?
ML:Sim,
de certa forma. Mas ele não estava em tão boa forma quanto nos anos anteriores.
Várias fotos que você vê do último ano de sua vida, ele esta com Billy Smith no
seu triciclo ou no carro.
ECB: Após sua morte, muitos rumores
sobre câncer começaram a aparecer. Certamente não são verdadeiros, mas como você
acha que esses rumores começaram e porque pessoas próximas a ele, como Kathy
Westemoreland, continuam insistindo na veracidade desta história?
ML:
Depois da morte de Elvis, Vernon botou na cabeça que alguém em Graceland estava
vazando informações pessoais sobre os acontecimentos
ECB: Elvis deve ter conhecido uma
quantidade imensa de mulheres. Não parece surpreendente que ele nunca teve um
filho fora do casamento?
ML:Não,
ele era muito cuidadoso e felizmente nenhuma delas ficou grávida
propositadamente. Ele com certeza absoluta não teve nenhum filho além de Lisa
Marie. Eu posso te afirmar que se ele tivesse tido, elas certamente divulgariam.
ECB: Numa recente entrevista para o
apresentador Larry King você disse que “A única vez que o ouvi pedir desculpas
foi para mim, numa discussão, a única discussão que tivemos. E me chocou ele
fazer isso, porque ele não pedia desculpas, ele ia e te comprava alguma coisa”.
Você se lembra qual foi essa discussão que levou Elvis a fazer algo que parecia
tão difícil para ele?
ML:Sim,
foi por causa de uma mentira que o pai dele contou sobre minha irmã e meu
cunhado, que projetaram e construíram o Jardim de Meditação em Graceland e
também o quarto de Elvis. Vernon não gostou porque não tinha controle sobre isso
e pra piorar era anti-semita e nós éramos judeus. Elvis começou a xingar minha
família mas ele logo percebeu que fez algo muito errado e foi ai que ele pediu
desculpas. Depois que ele nos xingou, mandei ele e o pai dele para aquele lugar
e fiquei quatro dias sem vê-lo. Quando voltei, ele me disse que sentia muito e
me convidou para ser seu padrinho de casamento. Eu o
perdoei.
ECB: Qual era a melhor parte de ser
amigo de Elvis?
ML:Apenas
ser seu amigo e ser como um irmão para ele e os caras da máfia original.
ECB: Qual sua lembrança mais querida
dele?
ML:
Seu sorriso.
ECB: Como você acha que devemos
lembrar dele?
ML:
Como uma boa pessoa
que mudou a cultura do mundo nos anos 50 e continuar a apreciar sua
música.
Gostaríamos de agradecer Marty Lacker pelo tempo dedicado a entrevista e desejar-lhe o melhor para o futuro.
® 2005,2006,2007 Elvis
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